Para criar o Papai Noel, Sundblom buscou inspiração no poema de Clement Moore, de 1822, intitulado Uma Visita de São Nicolau. A descrição que Moore fez do fabricante de brinquedos como um "velho rechonchudo e bem humorado" levou à criação da imagem do Papai Noel amigável e humano que conhecemos hoje.
Sundblom usou seu amigo e vizinho, Lou Prentice, um vendedor aposentado, como modelo para as ilustrações. Após a morte de Prentice, em 1940, Sundblom passou a usar a si mesmo como modelo e, por 35 anos, pintou retratos do Papai Noel para os anúncios da Coca-Cola. Haddon Sundblom morreu em 1976.
Então leio nesta semana a notícia de que o Papai Noel está sendo banido da Alemanha e da Áustria, acusado de ser invenção da Coca-Cola e de destruir o verdadeiro espírito de natal. Existe por lá um movimento impedindo o uso da imagem do bom velhinho entre os comerciantes que quiserem vender suas mercadorias no natal.
"Nós somos contra as coisas materiais, a ânsia de comprar, e esse homem de barba branca e de vermelho destruiu o real espírito do natal", afirma Bettina Schade, uma das organizadoras do movimento. Que Papai Noel jamais teve ligação alguma com o natal, compreende-se. Mas acusá-lo de fomentar o materialismo e a ânsia de comprar simplesmente porque sua imagem foi concebida pela Coca-Cola (há 75 anos!), é ridículo. Aliás, o conceito do Papai Noel já existia há muito mais tempo e é originário da própria Alemanha. A senhora Bettina deveria lutar, então, contra todo o comércio no natal - se usar a imagem do Noel, não pode vender; mas se não usar, pode? Que se proíba também o poema de Clement Moore. Ou, melhor ainda, por que ela não se movimenta para impedir o consumo de Coca-Cola no natal?
Existe, claro, a questão religiosa, mas nessa parte prefiro não entrar. Há quem comemore o natal e quem não comemore, assim, que cada um faça o que lhe parecer melhor. Não custa dizer, entretanto, que, dado o verdadeiro significado do natal, ele poderia ser comemorado todos os dias do ano, dentro do coração das pessoas, sem a necessidade de uma data específica para isso. Bolas, árvores, neve artificial, luzes coloridas e todo o resto são nada mais do que simples objetos.
Eu poderia até dar razão à Bettina Schade, se seus argumentos fossem outros além do patogênico combate ao consumismo, usando a Coca-Cola como desculpa para disparar suas farpas. Se nessa época do ano as vendas podem melhorar e ajudar a vida de patrões e empregados, por que lutar contra? Que vendam mais e mais! Não será a presença ou ausência do Papai Noel que influenciará as pessoas a comprarem.
Confesso que nunca acreditei em Papai Noel. Sempre soube que aqueles senhores de vermelho que eu via em shoppings eram apenas velhinhos contratados para alegrar as crianças e atrair os pais. É dessa forma que pretendo criar meus filhos, instruindo-os desde os tenros anos a identificar um engodo. Vocês podem dizer que a criança precisa de fantasias para desenvolver a imaginação. Concordo, mas fantasias não se restringem a Papai Noel. As fábulas de Ésopo, por exemplo, são riquíssimas em conteúdo e nem um pouco enfadonhas.
Por fim, criação da Coca-Cola ou não, Papai Noel é apenas um personagem fictício. O que não é o caso do Coelhinho da Páscoa. Esse sim existe! E ninguém me convencerá do contrário.