Quando fiz a entrevista para a vaga de meu emprego anterior, a pessoa que me entrevistava disse: "Apesar de nossa estrutura sólida, a empresa é enxuta e não temos RH. Todos os assuntos relacionados aos funcionários são tratados com a área comercial e financeira". Sugeri que continuassem assim. Se não tinham RH e estão no mercado há vinte anos (com funcionários com dezesseis anos de casa), é prova definitiva da inutilidade desse departamento.
Você dirá que estou sendo injusto. Pode ser. Sei que há departamentos de RH que funcionam bem. Mas esses não conheci. Os que conheci tinham ideias mirabolantes, mas fugiam de propostas que realmente interessavam. De que adianta promover churrascos de integração entre as áreas com salários defasados e sem possibilidades visíveis de crescimento? É preciso ter o básico para pensar nos extras. Muitos profissionais de RH são formados em psicologia, mas é estupidez gastar quatro anos na faculdade apenas para negociar descontos em salões de beleza e manicures – acompanhei muitas dessas "conquistas" do RH. Não que fossem inúteis, mas só atendiam ao público feminino da empresa. Havia também acordos com restaurantes, mas os salões de beleza ganhavam disparado.
Certa feita, numa empresa em que trabalhei, houve uma debandada de profissionais. Pessoas em cargos estratégicos iam aos montes para os concorrentes. A fim de descobrir por que tanta gente deixava a empresa, contrataram uma especialista em RH para achar os problemas e evitar as saídas. Ela ficou dois meses ali, saiu e foi para um concorrente.
Em outra ocasião, querendo instituir um plano de cargos e salários para motivar a equipe, pedi ao RH uma lista de todos os cargos existentes e os requisitos para promoções. Disseram que não tinham essa lista, mas que minha iniciativa era excelente e que eu poderia ir em frente, elaborar a lista e passar para eles – ou seja, pedi ajuda e saí com uma incumbência.
Mas nada se compara a duas contratações que precisei fazer. Estava com equipe reduzida e alta demanda de trabalhos. Era matemático: menos pessoas entregam menos trabalhos. Briguei para contratar reforços. Quando veio a autorização, tratei de começar a busca. Conhecendo o ritmo do RH, eu mesmo divulguei as vagas, selecionei currículos e fiz entrevistas. O RH apenas formalizaria a contratação. Escolhi duas pessoas e comuniquei ao RH que ambos começariam na segunda-feira seguinte.
Naquela segunda passei o dia inteiro em reuniões externas e só voltei no fim da tarde. Olhando as duas mesas vazias, perguntei pelos novos funcionários. Ninguém sabia deles. Liguei para o RH e a resposta foi: "Ah, era para contratá-los"? Não, eu os entrevistei apenas para brincar de Jô Soares. Pedi para chamá-los o mais rápido possível e me disseram que os dois viriam na quarta-feira. Na quarta, apenas um deles apareceu. Mais uma vez chamo o RH, tentando imaginar o que aconteceu. A resposta: "Então, o outro candidato desistiu e esquecemos de avisar. Você vai querer outra pessoa"?
É por isso que departamentos de RH, para mim, caíram em total descrédito. Não posso nem mesmo culpar a incapacidade de uma única pessoa, pois os episódios acima envolveram diferentes pessoas de diferentes setores do RH. O caos é generalizado.
Se você é um proficiente profissional de RH e não concorda comigo, manifeste-se e mostre que existe vida inteligente nesse departamento. Mas se a carapuça serviu, melhor começar assinar seus e-mails como Didi, Dedé, Mussum ou Zacarias.