terça-feira, 19 de março de 2013

Declaração de remoção da sociedade

Declaração de remoção da sociedade
Após lutar contra conflitos internos em inúteis embates filosóficos, decidi me remover dessa piada de mal gosto chamada ‘sociedade’. Tomei essa decisão ao ver meus dilemas se dissolvendo à luz da razão, quando uma nova realidade se descortinou diante dos meus olhos, finalmente me fazendo entender que as pessoas no mundo desistiram de pensar – algo que demorei a aceitar.


E quando as pessoas deixam de pensar os aviões caem, prédios desabam, boates pegam fogo, corruptos são eleitos, analfabetos recebem diploma, o crime compensa, a virtude é destruída, ditadores viram heróis, o vício é elogiado, famílias se dissolvem, a felicidade é artificial e a esperança é só uma palavra.

Ao entender que as pessoas abandonaram a razão, a ideia do fim do mundo fez sentido como nunca fez em toda a minha vida. E surgiu um desespero incontrolável de não querer fazer parte disso. Impossível aceitar contradições sem valor, sem objetivo, sem cérebro.

Pensar é viver! Pensar é sentir! É mudar o mundo para melhor. Pensar é reconhecer o valor das coisas e das pessoas. Pensar é criar. É buscar sua própria felicidade e sentir orgulho do que você faz. Pensar é não ter culpa. Pensar é não aceitar a injustiça. Pensar é não exigir sacrifícios e nem se sacrificar. Pensar é enxergar o divino nos pequenos detalhes que levam às grandes obras.

E para sair desse mundo que não pensa precisei aceitar que sou egoísta e preconceituoso. Surpreso? Indignado? Você também é, apenas não admite. Aliás, desconfie de quem diz não ter preconceitos, são pessoas perigosas – geralmente políticos e artistas – que vivem da demagogia, pois não têm nenhuma outra virtude.

Mas meu preconceito não é racial, sexual nem nada assim – se você é pobre, rico, gay, hetero, branco, negro, religioso ou ateu... isso não significa nada. Seu mérito não está em quem você é, mas no que você produz, no que você cria, no valor do que você oferece ao mundo – no uso da sua mente. Se você não produz nada, não pode exigir nada.

Meu preconceito é contra ideias, não contra pessoas. Por isso resolvi me afastar de tudo o que vai contra meus valores morais e éticos. “Que valores são esses?” – você pergunta. São todos aqueles que, sob uma análise racional, considero certos, verdadeiros e bons. E não vou enumerá-los aqui, pois é preciso que você pense sozinho para descobrir e aceitar esses valores. Na análise racional dos seus conceitos individuais você chegará a conclusões semelhantes às minhas e verá que estou certo.

A razão sobre a emoção


Abandonei a emoção como métrica da vida – decisões emocionais resultam em desastres. A razão deve controlar a emoção. E minha emoção, por ser íntima e valiosa, reservo para quem e o quê a merece. Você pode achar isso frio e insensível, mas não é verdade. Apenas refinei meus sentimentos. Quando isso ocorre, você se torna mais exigente, mais seletivo e indiferente a muitas coisas. Por exemplo, sou imune a notícias de acidentes, tragédias, catástrofes e coisas assim – sério, não sinto absolutamente nada. Mas choro feito criança ao assistir este vídeo.

Deixei de me importar com os sentimentos das pessoas, mas não com as pessoas. Não entendeu? É simples: Os seus sentimentos são criados pelos seus pensamentos, e o que você pensa ou sente só diz respeito a você. Eu controlo meus sentimentos, não você. E você controla seus sentimentos, não eu.

Mas gosto de ver aqueles que amo sempre bem. Se posso fazer algo por eles, faço. Não por caridade, mas pelo prazer de vê-los felizes e fazendo a vida valer a pena. Mas só ajudo quem merece. “E como saber quem merece ou não?” – você dirá. Basta pensar! Você verá que é digno de ajuda quem não pede por ela, não se faz de vítima e nem apela para o emocional.

Até a fé exige razão, pois fé é a crença comprovada. Se você acredita porque alguém lhe disse para acreditar, sua fé é fraca e manipulável. Para seguir uma religião é preciso usar a razão: Se os atos do pregador são contrários à doutrina que ele prega, então é seu dever pensar e discordar.

É a falta do pensamento racional que leva as pessoas ao eterno conflito entre corpo e alma. Se você usa a razão e o discernimento, não terá essa aflição, pois entenderá que corpo e alma possuem um mesmo propósito: devem trabalhar juntos e livres de culpa. Só erra quem não pensa. Só erra quem espera que outros pensem por ele.

Nenhum papa, padre, pastor, rabino, guru, chefe, juiz, prefeito, governador ou presidente pode controlar sua vida. A sua vida só pode ser guiada por você. Fuja de discursos emocionados e enganadores de Obamas e Lulas. Você pode precisar de orientadores, nunca de líderes. Só precisa de líder quem não quer assumir a responsabilidade pelos seus atos. Quem desiste de pensar e tem medo de tomar decisões busca refúgio no líder (que leva a culpa pelos incompetentes).

Meu bem mais precioso é o meu tempo. E somente eu decido como usá-lo. E decidi usá-lo para minha felicidade, meus objetivos, minhas conquistas. E apesar do que você possa pensar, isso não significa satisfazer desejos irracionais ou prejudicar outras pessoas. É justamente o contrário! Por reconhecer que meu tempo é precioso e limitado, eu preciso usá-lo para os melhores propósitos possíveis, que podem ser sim egoístas – não no sentido pejorativo, mas como uma virtude racional (ou individualismo), que significa me preocupar com meus interesses particulares.

Ao entender isso você percebe que não pode perder tempo com besteiras. Seu tempo é valioso demais para se preocupar com banalidades – sejam coisas ou pessoas. Não há tempo para ódio, inveja, preguiça. É imprescindível enriquecer! Isso mesmo, enriquecer! Tornar-se rico material, cultural e espiritualmente. Você terá que escolher entre aprender algo novo ou ficar em frente à TV. Terá que pensar em como aumentar sua renda usando seu intelecto em vez de reclamar que nunca tem dinheiro. Terá que cultivar virtudes cada vez mais elevadas e puras para não se deixar arrastar pelo mal. Terá que abrir mão de muitas coisas para conquistar outras.

Ao concluir isso, menos vontade você terá de viver nessa ‘sociedade’ que exige tudo de você e não lhe dá nada em troca. Perceberá que não existe diferença entre pagar impostos e ser assaltado – ambos lhe privam de seus bens contra sua vontade para satisfazer parasitas. Perceberá que a falta de educação começa a incomodar mais. Perceberá que certos assuntos já não lhe agradam. Perceberá que a companhia de um livro é melhor do que a de certas pessoas. Perceberá que música e arte devem ser sublimes e não grosseiras. Perceberá que quanto mais incapaz a pessoa é, mas ela exigirá proteção por meio de leis. Perceberá que não vale a pena se esforçar por quem não se esforça.

Chega de sacrifícios


Quantas vezes você se matou por alguém, deixou de fazer o que gostaria para ajudar outra pessoa e depois quebrou a cara? Isso o que você fez tem um nome: Sacrifício. E apesar do que se acredita, sacrifício não é uma virtude, é burrice mesmo.

Se a ajuda que você oferece vai lhe prejudicar, isso é irracional. Você não é um mártir e o mundo não precisa de mais sacrifícios. Viver uma vida plena e feliz é uma forma de valorizar e reconhecer os sacrifícios que foram feitos no passado.

O sacrifício é diferente da privação temporária. Se você deixa de jantar fora para economizar e poder comprar algo que deseja, isso não é sacrifício, é o uso racional do seu dinheiro – você está indicando que aquilo que deseja é mais valioso do que os restaurantes.

Ajudar alguém não é sacrifício se a pessoa reconhece isso e faz valer o valor da ajuda. “Mas não é certo ajudar alguém sem esperar nada em troca?” – você perguntará. Sim, a ajuda deve ser voluntária, nunca uma obrigação. Mas é preciso saber quem ajudar, pois aí você entenderá, finalmente, o que significa “não dar pérolas aos porcos”. A melhor forma de ajudar a África, por exemplo, é parar de ajudar a África, como você pode ler aqui.

Aceite que você não pode salvar nem mudar o mundo. Não pode lutar contra o mal porque o mal sempre será mais forte. Não pode vencer o mal porque é o mal que elabora as leis. A luta sempre será injusta quando se usa as regras do adversário.

Por isso decidi parar de me sacrificar pelo mal. Decidi parar de alimentar aquilo cujo propósito é me destruir. Não posso deixar que esse parasita me obrigue a dar o sangue a troco de nada. E a única forma de fazer isso é matar o parasita de fome. Como? Simplesmente me removendo da sociedade e me recusando a fazer parte dessa festa insana.

Como se remover da sociedade?


É preciso mandar pro inferno quem diz que a verdade é relativa, que não existe certo e errado e que bem e mal são conceitos abstratos. Quem afirma isso são criminosos morais que visam destruir os valores mais sagrados que você tem. São seres do mais baixo nível, incapazes de se sustentar pelas próprias pernas e, invejosos, distorcem a realidade para justificar sua depravação, invertendo a moralidade, recompensando os maus e punindo os bons. E fazem isso sob o pretexto de lutar pelas asquerosas ‘causas sociais’, exigindo que o mundo lhes aceite pelo que são e não pelo que fazem.

Então, sim, é preciso escolher um lado. O caminho do meio nem sempre é prudente, mas é sempre o dos covardes. Ficar em cima do muro é assumir sua incapacidade de pensar. Sim, é sua obrigação diferenciar certo e errado, e você só vai conseguir isso pensando e discriminando. Sim, você deve fazer o bem e repudiar o mal em todas as circunstâncias, e isso às vezes lhe obrigará a se afastar de lugares e pessoas. Repudie quem diz “isso não tem problema”, “o mundo mudou”, “todo mundo faz”, etc. Você dirá: “Que exagero, não é preciso chegar a extremos assim.” Na verdade é preciso sim e, se você acha que não, isso só mostra como a covardia e a recusa de encarar a realidade controlam sua vida. Mas as mudanças devem ocorrer dentro de você, racionalmente. Se você deseja lutar por algo, que seja sempre pela liberdade acima de qualquer coisa.

Por isso resolvi me remover disso que chamam ‘sociedade’. Prefiro viver na civilização, onde as pessoas buscam soluções e não culpados. Onde criminosos não são “supostos”. Onde a pessoa é recompensada pelo que faz e não por quem é. Onde respeito, educação e honestidade são meras obrigações e não virtudes. Onde a verdade não resulta em processos judiciais. Onde o governo não reprime o sucesso e incentiva a incompetência. Onde o dinheiro compra produtos, não pessoas. Onde a felicidade é um meio e não um fim. Onde ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas ideias sobre os outros. Onde as pessoas não percam tempo tentando salvar um mundo que não quer ser salvo.

Você deve estar se perguntando onde é esse lugar e quando vou me mudar para lá. Vamos por partes. Há um ditado que diz: “Seja você a mudança que deseja ver no mundo”. É isso que farei. Não posso mudar o mundo, mas posso mudar a mim mesmo e ser o exemplo daquilo que acredito. Mudar de lugar por causa dos problemas é levar os problemas para outro lugar.

Talvez eu não esteja em São Paulo no futuro. Quem sabe? Mas antes da mudança física é preciso a mudança da consciência. Quando a minha mudança interior estiver completa e refletida naqueles que amo, aí será a hora de mudar fisicamente. Não para fugir ou criar um 'exército de homens honrados', como um amigo sugeriu certa vez neste texto, mas para viver. Os parasitas que fiquem com as migalhas que eu deixar para trás.

Sim, eu quero fazer a vida valer a pena. Eu quero honrar aqueles que vieram antes de mim e fizeram por merecer. Eu quero ser a mudança, não no mundo, mas em mim mesmo. E sim, eu quero mais dinheiro, mais conforto, mais paz e mais segurança; e quero que aqueles que amo estejam ao meu lado para desfrutar comigo. Mas quero conquistar tudo isso pelo preço do meu esforço, nunca da minha alma.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento
Sempre achei que o homem que ‘coleciona’ mulheres, que acha o máximo todo dia ter uma mulher diferente e que se vangloria para os amigos de ser o ‘pegador’ é uma pessoa infeliz e perdedora – o típico loser, mesmo. É alguém inferior que precisa de autoafirmação constante porque não possui nenhum valor pelo qual se orgulhar e ser notado.


Acredito que o maior desafio, o mais difícil mesmo (e real motivo de orgulho), é conquistar a mulher que você ama não uma vez, mas todos os dias. E, meu amigo, conquistar a mesma pessoa todos os dias é infinitamente mais difícil do que conquistar uma pessoa nova por dia.

Se a pessoa vem me contar suas aventuras sexuais, ela me passa a impressão de vazia, desprovida de algo que valha a pena se ouvido. A pessoa que considera uma noite de sexo mais importante do que uma vida ao lado de alguém, envelhecendo e aprendendo juntos, é miseravelmente infeliz, ainda que nem se dê conta disso.

Onde está o esforço para manter uma relação saudável por anos, vencendo obstáculos? Se não há esforço, é porque a pessoa não vale mais a pena? Ou, talvez, nunca valeu? Que critérios então você usou para escolher essa pessoa?

Uma grande frustração minha é que nunca consegui colocar em palavras esse conceito corretamente. Até que esses dias vi a transcrição perfeita dos meus pensamentos, a qual compartilho abaixo (e me desculpo por citar Ayn Rand duas vezes seguidas em meus posts, mas, acredite, vale muito a pena):

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento – por Ayn Rand


Só o homem com complexo de inferioridade passa a vida correndo atrás de mulheres. Pois o homem que sente desprezo por si mesmo tenta obter amor-próprio por meio de aventuras sexuais. O que é inútil, porque o sexo não é a causa, e sim o efeito e uma manifestação da imagem que um homem faz do próprio valor.

O amor é cego, dizem. O sexo é imune à razão. Mas, na verdade, a escolha sexual de um homem é o resultado e o somatório de suas convicções fundamentais.

Diga-me o que um homem acha sexualmente atraente que lhe direi qual é toda a sua filosofia de vida. Mostre-me a mulher com quem ele dorme e lhe direi a imagem que ele faz de si próprio.

O ato sexual é um ato que força o homem a ficar nu tanto no corpo quanto no espírito e a aceitar seu ego verdadeiro como padrão de valor.

O homem que está convicto do seu próprio valor e dele se orgulha há de querer o tipo mais elevado de mulher possível, a mulher que ele admira, a mais forte, porque somente a posse de uma heroína lhe dará a consciência de ter realizado algo, não apenas de ter possuído uma vagabunda desprovida de inteligência.

Ele não tenta ganhar seu valor, e sim exprimi-lo. Não há conflitos entre os padrões da sua mente e os desejos de seu corpo.

Mas o homem que está convencido de que não tem valor será atraído por uma mulher que despreza, porque ela refletirá o seu próprio eu secreto e lhe proporcionará uma fuga daquela realidade objetiva em que ele é uma fraude.

Observe o caos que é a vida sexual da maioria dos homens e repare no amontoado de contradições que constitui a sua filosofia moral. Uma deriva da outra.

O amor é nossa resposta aos nossos valores mais elevados e não pode ser outra coisa. O homem que corrompe seus próprios valores e a visão que tem da sua existência se parte em dois.

Seu corpo não lhe obedecerá, não reagirá da forma apropriada e o tornará impotente em relação à mulher que ele afirma amar, impelindo-o para a prostituta mais abjeta que puder encontrar.

E então ele não entende por que o amor só lhe provoca tédio, e a sexualidade, apenas vergonha.

Observe que a maioria das pessoas é uma criatura partida em duas, que vive pulando desesperadamente de um polo para outro.

Um dos tipos é o homem que despreza o dinheiro, as fábricas, os arranha-céus e seu próprio corpo. Geme de desespero porque não consegue sentir nada pelas mulheres que respeita, porém sente-se aprisionado por uma paixão irresistível dirigida a uma vagabunda que encontrou na sarjeta.

O outro tipo é o que chamam de prático, que despreza os princípios, as abstrações, a arte, a filosofia e a própria mente. Ele tem como único objetivo na vida a aquisição de objetos materiais e ri quando lhe falam da necessidade de considerar seu objetivo ou sua fonte.

Ele acha que tais coisas devem lhe proporcionar prazer e não entende por que quanto mais acumula, menos prazer sente. Esse é o homem que vive correndo atrás de mulheres.

Observe a tripla fraude que comete contra si próprio. Ele não reconhece sua necessidade de amor-próprio, pois ri do conceito de valor moral. No entanto, sente o profundo desprezo por si próprio que caracteriza aqueles que acham que não passam de um pedaço de carne.

Assim, ele tenta, realizando os gestos que constituem o efeito, adquirir o que deveria ser a causa.

Ele tenta afirmar o seu próprio valor por intermédio das mulheres que se entregam a ele e esquece que as mulheres que escolhe não têm caráter, nem julgamento, nem padrões de valores.

Ele diz a si próprio que tudo o que quer é o prazer físico, porém observe que ele se cansa de uma mulher em uma semana ou uma noite, que despreza prostitutas profissionais e adora imaginar que está seduzindo moças direitas que abrem uma exceção para ele.

É a sensação de realização que ele busca e jamais encontra. Que glória pode haver em conquistar um corpo desprovido de mente? Pois é esse o homem que vive correndo atrás de mulheres.

Essas mulheres estão atrás da mesma coisa que os homens que vivem andando atrás de um rabo de saia: só querem aumentar seu próprio valor por meio do número e da fama dos homens que conquistam.

Só que são ainda mais falsas, porque o valor que elas buscam nem é o ato em si, mas a impressão que vão causar nas outras mulheres, bem como a inveja que vão provocar.

Extraído de A Revolta de Atlas, de Ayn Rand.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Discurso sobre o Dinheiro

Discurso sobre o Dinheiro
Discurso de Francisco D’Anconia a respeito do dinheiro. Extraído do livro A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged), de Ayn Rand. É longo, mas pode mudar sua forma de enxergar algumas coisas:

Discurso sobre o Dinheiro (Ayn Rand)


- Então o senhor acha que o dinheiro é a origem de todo o mal? O senhor já se perguntou qual é a origem do dinheiro? O dinheiro é um instrumento de troca, que só pode existir quando há bens produzidos e homens capazes de produzi-los. O dinheiro é a forma material do princípio de que os homens que querem negociar uns com os outros precisam trocar um valor por outro. O dinheiro não é o instrumento dos pidões, que pedem produtos por meio de lágrimas, nem dos saqueadores, que os levam à força. O dinheiro só se torna possível através dos homens que produzem. É isto que o senhor considera mau? Quem aceita dinheiro como pagamento por seu esforço só o faz por saber que ele será trocado pelo produto de esforço de outrem. Não são os pidões nem os saqueadores que dão ao dinheiro o seu valor. Nem um oceano de lágrimas nem todas as armas do mundo podem transformar aqueles pedaços de papel no seu bolso no pão de que você precisa para sobreviver. Aqueles pedaços de papel, que deveriam ser ouro, são penhores de honra; por meio deles você se apropria da energia dos homens que produzem. A sua carteira afirma a esperança de que em algum lugar no mundo a seu redor existem homens que não traem aquele princípio moral que é a origem do dinheiro. É isso que o senhor considera mau?

- Já procurou a origem da produção? Olhe para um gerador de eletricidade e ouse dizer que ele foi criado pelo esforço muscular de criaturas irracionais. Tente plantar um grão de trigo sem os conhecimentos que lhe foram legados pelos homens que foram os primeiros a fazer isso. Tente obter alimentos usando apenas movimentos físicos, e descobrirá que a mente do homem é a origem de todos os produtos e de toda a riqueza que já houve na terra.

- Mas o senhor diz que o dinheiro é feito pelos fortes em detrimento dos fracos? A que força se refere? Não é à força das armas nem dos músculos. A riqueza é produto da capacidade humana de pensar. Então o dinheiro é feito pelo homem que inventa um motor em detrimento daquele que não o inventaram? O dinheiro é feito pela inteligência em detrimento dos estúpidos? Pelos capazes em detrimento dos incompetentes? Pelos ambiciosos em detrimento dos preguiçosos? O dinheiro é feito – antes de poder ser embolsado pelos pidões e pelos saqueadores – pelo esforço honesto de todo homem honesto, cada um na medida de sua capacidade. O homem honesto é aquele que sabe que não pode consumir mais do que produz. Comerciar por meio do dinheiro é o código dos homens de boa vontade. O dinheiro baseia-se no axioma de que todo homem é proprietário de sua mente e de seu trabalho. O dinheiro não permite que nenhum poder prescreva o valor do seu trabalho, senão a escolha voluntária do homem que está disposto a trocar com você o trabalho dele. O dinheiro permite que você obtenha em troca dos seus produtos e do seu trabalho aquilo que esses produtos e esse trabalho valem para os homens que os adquirem, e nada mais que isso. O dinheiro só permite os negócios em que há benefício mútuo segundo o juízo das partes voluntárias.

- O dinheiro exige o reconhecimento de que os homens precisam trabalhar em benefício próprio, e não em detrimento de si próprio; para lucrar, não para perder; de que os homens não são bestas de carga, que não nascem para arcar com o ônus da miséria; de que é preciso oferecer-lhes valores, não dores; de que o vínculo comum entre os homens não é a troca de sofrimento, mas a troca de bens. O dinheiro exige que o senhor venda não a sua fraqueza à estupidez humana, mas o seu talento à razão humana; exige que o senhor compre não o pior que os outros oferecem, mas o melhor que o seu dinheiro pode comprar. E, quando os homens vivem do comércio – com a razão e não à força, como árbitro irrecorrível –, é o melhor produto que sai vencendo, o melhor desempenho, o homem de melhor juízo e maior capacidade – e o grau da produtividade de um homem é o grau de sua recompensa. Este é o código da existência, cujo instrumento e símbolo é o dinheiro. É isto que o senhor considera mau?

- Mas o dinheiro é só um instrumento. Ele pode levá-lo aonde o senhor quiser, mas não pode substituir o motorista do carro. Ele lhe dá meios de satisfazer seus desejos, mas não lhe cria desejos. O dinheiro é o flagelo dos homens que tentam inverter a lei da causalidade – os homens que tentam substituir a mente pelo sequestro dos produtos da mente. O dinheiro não compra felicidade para o homem que não sabe o que quer; não lhe dá um código de valores se ele não tem conhecimento a respeito de valores, e não lhe dá um objetivo, se ele não escolhe uma meta. O dinheiro não compra inteligência para o estúpido, nem admiração para o covarde, nem respeito para o incompetente. O homem que tenta comprar o cérebro de quem lhe é superior para servi-lo, usando dinheiro para substituir seu juízo, termina vítima dos que lhe são inferiores. Os homens inteligentes o abandonam, mas os trapaceiros e vigaristas correm a ele, atraídos por uma lei que ele não descobriu: o homem não pode ser menor do que o dinheiro que ele possui. É por isso que o senhor considera o dinheiro mau? Só o homem que não precisa da fortuna herdada merece herdá-la – aquele que faria sua fortuna de qualquer modo, mesmo sem herança. Se um herdeiro está à altura de sua herança, ela o serve; caso contrário, ela o destrói. Mas o senhor diz que o dinheiro corrompeu. Foi mesmo? Ou foi ele que corrompeu seu dinheiro? Não inveje um herdeiro que não vale nada; a riqueza dele não é sua, e o senhor não teria tirado melhor proveito dela. Não pense que ela deveria ser distribuída; criar cinquenta parasitas em lugar de um só não reaviva a virtude morta que criou a fortuna. O dinheiro é um poder vivo que morre quando se afasta de sua origem. O dinheiro não serve à mente que não está a sua altura. É por isso que o senhor o considera mau?

- O dinheiro é o seu meio de sobrevivência. O veredicto que o senhor dá à fonte de seu sustento é o veredicto que o senhor dá à sua própria vida. Se a fonte é corrupta, o senhor condena a sua própria existência. O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humana? O senhor o obteve servindo aos insensatos, na esperança de que eles lhe dessem mais do que sua capacidade merece? Baixando seus padrões de exigência? Fazendo um trabalho que o senhor despreza para compradores que o senhor não respeita? Neste caso, o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade. Todas as coisas que o senhor adquirir serão não um tributo ao senhor, mas uma acusação; não uma realização, mas um momento de vergonha. Então o senhor dirá que o dinheiro é mau. Mau porque ele não substitui seu amor-próprio? Mau porque ele não permite que o senhor aproveite e goze sua depravação? É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? O dinheiro será sempre um efeito, e nada jamais o substituirá na posição de causa. O dinheiro é produto da virtude, mas não dá virtude nem redime vícios. O dinheiro não lhe dá o que o senhor não merece, nem em termos materiais nem em termos espirituais. É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? Ou será que o senhor disse que é o amor ao dinheiro que é a origem de todo o mal?

- Amar uma coisa é conhecer e amar a sua natureza. Amar o dinheiro é conhecer e amar o fato de que o dinheiro é criado pela melhor força que há dentro do senhor, a sua chave-mestra que lhe permite trocar o seu esforço pelo esforço dos melhores homens que há. O homem que venderia a própria alma por um tostão é o que mais alto brada que odeia o dinheiro – e ele tem bons motivos para odiá-lo. Os que amam o dinheiro estão dispostos a trabalhar para ganhá-lo. Eles sabem que são capazes de merecê-lo. Eis uma boa pista para saber o caráter dos homens: aquele que amaldiçoa o dinheiro o obtém de modo desonroso; aquele que o respeita o ganha honestamente. Fuja do homem que diz que o dinheiro é mau. Essa afirmativa é o estigma que identifica o saqueador, assim como o sino indicava o leproso. Enquanto os homens viverem juntos na terra e precisarem de um meio para negociar, se abandonarem o dinheiro, o único substituto que encontrarão será o cano do fuzil.

- O dinheiro exige do senhor as mais elevadas virtudes, se o senhor quer ganhá-lo ou conservá-lo. Os homens que não têm coragem, orgulho nem amor-próprio, que não têm convicção moral de que merecem o dinheiro que têm e não estão dispostos a defendê-lo como defendem suas próprias vidas, os homens que pedem desculpas por serem ricos – esses não vão permanecer ricos por muito tempo. São presa fácil para os enxames de saqueadores que vivem debaixo das pedras durante séculos, mas que saem do esconderijo assim que farejam um homem que pede perdão pelo crime de possuir riquezas. Rapidamente eles vão livrá-lo dessa culpa. Então o senhor verá a ascensão dos homens que vivem uma vida dupla – que vivem da força, mas dependem dos que vivem do comércio para criar o valor do dinheiro que eles saqueiam. Esses homens vivem pegando carona com a virtude. Numa sociedade onde há moral eles são os criminosos, e as leis são feitas para proteger os cidadãos contra eles. Mas quando uma sociedade cria uma categoria de criminosos legítimos e saqueadores legais – homens que usam a força para se apossar da riqueza de vítimas desarmadas – então o dinheiro se transforma no vingador daqueles que o criaram. Tais saqueadores acham que não há perigo em roubar homens indefesos, depois que aprovam uma lei que os desarme. Mas o produto de seu saque acaba atraindo outros saqueadores, que os saqueiam como eles fizeram com os homens desarmados. E assim a coisa continua, vencendo sempre não o que produz mais, mas aquele que é mais implacável em sua brutalidade. Quando o padrão é a força, o assassino vence o batedor de carteiras. E então esta sociedade desaparece, em meio a ruínas e matanças.

- Quer saber se este dia se aproxima? Observe o dinheiro. O dinheiro é o barômetro da virtude de uma sociedade. Quando há comércio não por consentimento, mas por compulsão – quando para produzir é necessário pedir permissão a homens que nada produzem – quando o dinheiro flui para aqueles que não vendem produtos, mas influência – quando os homens enriquecem mais pelo suborno e favores do que pelo trabalho, e as leis não protegem quem produz de quem rouba, mas quem rouba de quem produz – quando a corrupção é recompensada e a honestidade vira um sacrifício – pode ter certeza de que a sociedade está condenada. O dinheiro é um meio de troca tão nobre que não entra em competição com as armas e não faz concessões à brutalidade. Ele não permite que um país sobreviva se metade é propriedade, metade é produto de saques. Sempre que surgem destruidores, a primeira coisa que eles destroem é o dinheiro, pois o dinheiro protege os homens e constitui a base da existência moral. Os destruidores se apossam do ouro e deixam em troca uma pilha de papel falso. Isto destrói todos os padrões objetivos e põe os homens nas mãos de um determinador arbitrário de valores. O dinheiro era um valor objetivo, equivalente à riqueza produzida. O papel é uma hipoteca sobre riquezas inexistentes, sustentado por uma arma apontada para aqueles que têm de produzi-las. O papel é um cheque emitido por saqueadores legais sobre uma conta que não é deles: a virtude de suas vítimas. Cuidado que um dia o cheque é devolvido, com o carimbo: ’sem fundos’.

- Se o senhor faz do mal o meio de sobrevivência, não é de se esperar que os homens permaneçam bons. Não é de se esperar que eles continuem a seguir a moral e sacrifiquem suas vidas para proveito dos imorais. Não é de se esperar que eles produzam, quando a produção é punida e o saque é recompensado. Não pergunte quem está destruindo o mundo: é o senhor. O senhor vive no meio das maiores realizações da civilização mais produtiva do mundo e não sabe por que ela está ruindo a olhos vistos, enquanto o senhor amaldiçoa o sangue que corre pelas veias dela – o dinheiro. O senhor encara o dinheiro como os selvagens o faziam, e não sabe por que a selva está brotando nos arredores das cidades. Em toda a história, o dinheiro sempre foi roubado por saqueadores de diversos tipos, com nomes diferentes, mas cujo método sempre foi o mesmo: tomar o dinheiro à força e manter os produtores de mãos atadas, rebaixados, difamados, desonrados. Esta afirmativa de que o dinheiro é a origem do mal, que o senhor pronuncia com tanta convicção, vem do tempo em que a riqueza era produto do trabalho escravo – e os escravos repetiam os movimentos que foram descobertos pela inteligência de alguém e durante séculos não foram aperfeiçoados.

- Enquanto a produção era governada pela força, e a riqueza era obtida pela conquista, não havia muito que conquistar. No entanto, no decorrer de séculos de estagnação e fome, os homens exaltavam os saqueadores, como aristocratas da espada, aristocratas de estirpe, aristocratas da tribuna, e desprezavam os produtores, como escravos, mercadores, lojistas – industriais. Para a glória da humanidade, houve, pela primeira e única vez na história, uma nação de dinheiro – e não conheço elogio maior aos Estados Unidos do que esse, pois ele significa um país de razão, justiça, liberdade, produção, realização. Pela primeira vez, a mente humana e o dinheiro foram libertados, e não havia fortunas adquiridas pela conquista, mas só pelo trabalho, e ao invés de homens da espada e escravos, surgiu o verdadeiro criador da riqueza, o maior trabalhador, o tipo mais elevado de ser humano – o self-made man – o industrial americano. Se me perguntarem qual a maior distinção dos americanos, eu escolheria – porque ela contém todas as outras – o fato de que foram os americanos que criaram a expressão “fazer dinheiro”. Nenhuma outra língua, nenhum outro povo jamais usara estas palavras antes, e sim “ganhar dinheiro”; antes, os homens sempre encaravam a riqueza como uma quantidade estática, a ser tomada, pedida, herdada, repartida, saqueada ou obtida como favor. Os americanos foram os primeiros a compreender que a riqueza tem que ser criada. A expressão ‘fazer dinheiro’ resume a essência da moralidade humana. Porém foi justamente por causa desta expressão que os americanos eram criticados pelas culturas apodrecidas dos continentes de saqueadores.

- O ideário dos saqueadores fez com que pessoas como o senhor passassem a encarar suas maiores realizações como um estigma vergonhoso, sua prosperidade como culpa, seus maiores filhos, os industriais, como vilões, suas magníficas fábricas como produto e propriedade do trabalho muscular, o trabalho de escravos movidos a açoites, como na construção das pirâmides do Egito. As mentes apodrecidas que dizem não ver diferença entre o poder do dólar e o poder do açoite merecem aprender a diferença na sua própria pele, que, creio eu, é o que vai acabar acontecendo. Enquanto pessoas como o senhor não descobrirem que o dinheiro é a origem de todo bem, estarão caminhando para sua própria destruição. Quando o dinheiro deixa de ser o instrumento por meio do qual os homens lidam uns com os outros, os homens se tornam os instrumentos dos homens. Sangue, açoites, armas – ou dólares. Façam sua escolha – não há outra opção – e o tempo está esgotando.

Quais são seus planos para este ano? Reclamar ou gerar riqueza?