Se Dante Alighieri fosse brasileiro, certamente teria reservado um círculo especial no inferno para governos incapazes. O círculo dos 90%, quem sabe, onde almas penadas de mandatários incompetentes arderiam ao som das manchetes de jornais e das lamentações de seus eleitores. No caso de Lula, esse número mágico não vem de sua aprovação — que já teve dias melhores —, mas da rejeição retumbante que assombra seu governo. E por que não? Com o dólar voando, preços subindo e Haddad apresentando pacotes fiscais com a profundidade de uma monografia mal escrita, era de se esperar que o Brasil perdesse mais do que a paciência: perdeu a confiança.
Ah, Haddad! O eterno aluno de ouro da pedagogia petista. Prometeram cortes de gastos, reformas, algo que trouxesse um fiapo de alívio ao mercado. O que entregaram? Mais um carnê de crediário fiscal, desses que ninguém quer pagar. Os investidores, que são pragmáticos e alérgicos a demagogias, trataram de virar as costas. O resultado? Lá se foi nossa classificação internacional, despencando como os índices de popularidade de um presidente que parece mais preocupado com discursos do que com ações.
Enquanto isso, o povo, que um dia foi agraciado com slogans de "nunca antes na história deste país", agora descobre que o “antes” talvez não fosse tão ruim assim. Restam dois anos de mandato, e o futuro parece um campo minado de decisões desastradas. Se nem o mercado acredita mais no Brasil, por que o brasileiro deveria?
O problema de Lula não é só a economia – embora ela pese como um elefante nas costas de quem tenta sobreviver. É a sensação generalizada de que o barco está à deriva, capitaneado por quem está mais interessado em manter sua retórica do que em encontrar o rumo. Um governo que, ironicamente, prometeu inclusão social, mas conseguiu unir ricos e pobres na mesma indignação: os primeiros fugindo, os segundos revoltados.
E o que dizer dos próximos dois anos? Se formos acreditar na lógica dos 90%, há de se esperar que, no fim deste mandato, Lula tenha a aprovação de quem ainda acredita em Papai Noel. Porque a confiança no governo, no mercado e no futuro do país, esta já ficou para trás, como uma promessa de campanha esquecida na gaveta.
Restará ao brasileiro continuar sua sina histórica: sobreviver aos governos que escolhe e às consequências que não escolheu. Dois anos é muito tempo. Ou pouco, dependendo do ângulo. Mas, no Brasil, tempo é o que menos importa. Aqui, o caos não usa calendário.