Pelo preço de uma viagem de sete dias à Europa, você pode desfrutar a virada do ano em... São Paulo. É o que nos diz a matéria de Alexandre Bazzan para o Estadão, que você pode ler aqui.
De acordo com a reportagem, os preços de hospedagem em alguns hotéis do litoral norte de São Paulo durante o réveillon equivalem a uma semana em Paris, Madri ou Berlin. O Hotel Aldeia de Sahy, por exemplo, possui pacotes para duas pessoas que variam de R$ 11 mil a R$ 13 mil. Por esses mesmos R$ 13 mil o casal pode curtir a virada do ano em Roma – passagens aéreas inclusas. Se a grana estiver curta, Lisboa ou Madri saem por R$ 8 mil e R$ 10 mil o casal.
Que hotéis brasileiros queiram aproveitar a virada do ano para faturar, nada contra. Sou ferrenho defensor do bom e velho capitalismo. Também não questiono a qualidade desses hotéis – muitos possuem padrões internacionais – apesar de hotéis europeus com a mesma qualidade não cobrarem esse absurdo.
O que me espanta é o fato de brasileiros desembolsarem pequenas fortunas para permanecerem no Brasil durante o réveillon. Ora, se tenho à disposição treze ou quinze mil reais para viajar, a última coisa que eu quero é ouvir pessoas falando português ao meu redor.
O Brasil eu o tenho o ano inteiro. Se é possível escolher, por que me acotovelar entre brasileiros pulando sete ondinhas na praia, se posso ver a queima de fogos na Torre Eiffel, ouvindo a língua de Descartes acompanhado de bom vinho? Ou caminhar pelas ruas cobertas de neve na Alemanha, apreciando a arquitetura e a história viva ecoando pelas paredes. Ou ainda curtir a animação dos madrilenos e todos os encantos que a Espanha oferece.
As pessoas que pagam caro para ficar no Brasil vivem em ‘bolhas’. São os que dizem que este é o melhor país do mundo e, mesmo quando viajam para fora, não se esforçam para aprender outro idioma e cultura. É o sujeito que vai ao Japão e acha tudo horrível porque lá não tem feijoada e churrasco.
E, claro, além do motivo cultural (ou a falta dele), há o fator status. O brasileiro, em especial o paulista, adora pagar caro para se exibir. Não é o fato de ir a um bom restaurante ou possuir um bom celular, mas sim ser visto nesse restaurante portando o celular. Ele sequer sabe mexer no celular e nem gosta dos pratos do restaurante – mas se todo mundo vai, ele tem que ir também. Perde-se aí duas capacidades intelectuais essenciais: a opinião e a comparação.
Enfim, o Brasil oferece boas opções para quem vai ficar por aqui no réveillon. E não chegam nem perto dos valores cobrados por esses hotéis.
Se você não tem condições de escapar e vai ficar no Brasil na virada do ano, faça um favor ao seu intelecto (e ao seu bolso): Não pague caro para ouvir pessoas falando português.