sexta-feira, 16 de julho de 2021

Memento mori: Precisamos falar sobre a morte

Memento mori é uma expressão em latim que significa algo como "lembre-se de que você é mortal", "lembre-se de que você vai morrer" ou, traduzido ao pé-da-letra, "lembre-se da morte".

Nós evitamos falar da morte com as pessoas, principalmente com os mais jovens. “Eles têm a vida toda pela frente” – pensamos – “Por que falar sobre a morte? Isso é mórbido. Eles se preocuparão com isso quando estiverem velhos”.

A verdade é que nem todos chegarão à velhice para só aí pensarem na morte. Muitos partem bem antes e nunca pensaram nisso. E, a bem da verdade, não importa se a pessoa morre aos 30, 40, 60 ou 80, sempre diremos: “Não era a hora ainda”. Como se pudéssemos decidir ‘quando’ e ‘como’ partir simplesmente circulando um dia no calendário – bem lá na frente, de preferência.

Ao contrário do que muitos dizem, pensar na morte não é mórbido. Pois isso nos faz refletir sobre a vida. Lembramos que este é e sempre será o destino reservado a todos, sem exceção. E o fato de perceber que a vida é finita pode ser um dos maiores motivadores para vivermos plenamente.

O relógio está correndo e, a cada segundo que você respira, dê graças a Deus por estar vivo. Hoje, agora, neste exato momento, alguém respirou pela última vez. O cotidiano e as distrações da vida nos impedem de lembrar que, um dia, nós também exalaremos nosso último suspiro. Não apenas nós, mas todos aqueles que amamos também.

Em 2012 perdi um grande amigo para o câncer. Ele lutou até o fim, sem reclamar e nunca se entregar. Mas, infelizmente, a doença o venceu. Ele estava na faixa dos 30 anos, deixou a esposa e um filhinho de cinco anos.

Em 2016 perdi uma amiga para a leucemia. Ela lutou até o fim, sem reclamar e nunca se entregar. Mas, infelizmente, a doença a venceu. Ela estava na faixa dos 30 anos, deixou o marido e um filhinho de cinco anos.

Em 2021 perdi um grande "amigo-irmão" para o covid-19, de forma tão inesperada que nos deixou em choque. Estava internado, mas já se falava em alta. Infelizmente sua oxigenação caiu drasticamente, precisou ser entubado, mas teve uma parada cardíaca no processo e não resistiu. Ele tinha 42 anos e deixou a esposa.

O luto e o pesar ainda são recentes e a sensação é surreal, como se pudéssemos reverter os acontecimentos apenas com o pensamento. A mente demora um pouco para aceitar e assimilar tudo.

Eu acredito que tudo acontece por uma razão e um fim, e isso nos beneficia. “Ora, Emílio!” – você dirá. “Qual o benefício da morte de uma pessoa querida para sua família e amigos”? Veja bem, eu disse que acredito que tudo tem uma razão e um benefício, e não que isso seja uma verdade empírica. Você tem o direito de discordar.

De fato, família e amigos não têm um benefício concreto na morte de alguém que amam – a menos que extraiam esse benefício do ocorrido. Prefiro mil vezes ter quem amo do meu lado do que tentar encontrar alguma vantagem em sua morte, mas se não pensarmos dessa forma, o luto se prolonga, a dor é crescente e ficamos estagnados nos perguntando “por que”.

E é nesse momento que devemos parar de olhar para trás e encarar o caminho que ainda temos que percorrer. Não sabemos por quanto tempo ainda permaneceremos nele, mas é importante aprender com as lições daqueles que já partiram. O que nos ensinaram, ainda que sem dizer palavra alguma? O que faziam de bom que você também pode fazer? Como encaravam a vida?

Perceber que iremos morrer nos coloca sob uma perspectiva diferente diante do mundo. Você ainda perde tempo falando de política e se revoltando com as notícias do dia? Você ainda reclama porque pega trânsito? Você ainda se preocupa com a conta que vai vencer? Resmunga do frio? Xinga o calor? Discute por bobagens?

Pois é bom lembrar de que muitos dariam tudo para terem problemas financeiros ao lado de alguém que já partiu. Outros sofrem silenciosamente o remorso por não terem dito “eu te amo” o suficiente. E outros não tiveram tempo de fazer as pazes por causa de uma briga idiota.

Você quer um sentido e um benefício na morte de alguém que ama? Então VIVA! Viva plenamente, todos os dias! Alegre-se pelo sol entrando pela janela de manhã. Sorria com a chuva caindo à tarde. Apanhe uma flor caída no chão e delicie-se com o perfume que ela exala. Seja grato por cada segundo de vida que tem. E use esses segundos, minutos, horas e dias que você tem para melhorar a vida de outras pessoas.

Mais importante do que lembrar de que você vai morrer é lembrar que a pessoa que você ama vai morrer. Quem hoje divide alegrias e tristezas ao seu lado, amanhã já não poderá mais estar aqui.

Basta uma ultrapassagem errada. Basta ir a pé em vez de ônibus. Basta ir de ônibus em vez de ir a pé. Basta entrar no avião. Basta reagir ao assalto. Basta não reagir ao assalto. Basta a picada de um mosquito. Basta um exame a mais que o médico pediu. Basta ir dormir. Com toda a nossa fragilidade e insignificância, de onde inventamos que somos indestrutíveis?

A sua vida deve ser vivida agora. Não daqui a pouco. Não quando terminar de ler este texto. Não amanhã. Não depois do trabalho. Mas AGORA. Agora é o momento de dizer: “Eu te amo”, “quer casar comigo?”, “vamos ter um filho”, “eu me demito”, “eu aceito”, “eu vou conseguir”, “vamos mudar de país”, “vamos viajar”, “vai dar tudo certo”.

Vai! Dê esse passo agora! Corra atrás dos seus sonhos, por mais loucos e impossíveis que pareçam. Não deixe ninguém te segurar ou dizer que não vai dar certo. Vai dar certo sim. Você vai conseguir, eu tenho certeza disso.

Olhe agora para a pessoa que você ama. Seja sua esposa, seu marido, seus filhos, seus pais, seus avós, seus netos, seus amigos. Diga a eles que você vai morrer. E que eles também morrerão. E justamente por isso, estreite todos os laços de afeto que estavam frouxos.

Sim, eu sei que seu pai é chato. Sei que sua mãe te sufoca. Mas um dia você sentirá falta da chatice e do excesso de zelo deles. E é bom ter outra coisa em mente: Eles poderão sentir sua falta primeiro. Por isso, tenha a certeza de que fez tudo por eles. Coloquem as cartas na mesa, joguem fora tudo o que criava distância e inimizade, deixando apenas o amor fluir.

Viva! Viva intensamente e com total plenitude. Não aceite a metade ou um pedaço, busque o todo!

Amanhã, quando estiver indo para a academia entediado com sua vidinha chata, mude a rota e vá para o cemitério mais próximo. Pare ali por uns momentos e visite os velórios que estiverem sendo feitos. Crianças, idosos, adolescentes e adultos dentro de um caixão, com todos em volta chorando e lamentando. Deixe essa cena ficar bem gravada na sua mente, pois é dessa mesma forma que você terminará os seus dias. Você consegue consolar algumas daquelas pessoas, mesmo que nunca as tenha visto antes?

Agora reavalie-se: Será que a sua vidinha é mesmo tão chata? Será que você consegue olhar para si mesmo e ser grato por algo? Pelo seu emprego? Pelo seu casamento? Pelos seus filhos? Pelos problemas? Pelos amigos? Pelo vaso horrível da sala que a pessoa que você ama tanto queria?

Falar sobre a morte não é mórbido, é necessário. É a certeza da morte que torna a vida magnífica. Talvez um dia você esteja lendo este meu texto e eu já não estarei mais aqui.

E se você está vivenciando um luto, extraia desse momento a força necessária para mudar a sua vida. Vá fazer o que você nunca fez. Vá falar o que você nunca falou. Faça algo pela primeira vez – e torne a fazer outras vezes. Pare um desconhecido na rua e diga e ele que a vida é breve demais para andar olhando para o chão.

Faça alguém sorrir! Ou faça alguém chorar (de alegria).

Mas pelo amor de Deus, pare de ser insípido e morno! Seja intenso! Pare de ver a matemática em tudo e comece a rir dos formatos dos números.

Uma criança consegue sair da tristeza para a alegria simplesmente pulando no sofá da sala como se fosse uma cama elástica. Seu cachorro que estava bravo abana o rabo após receber um afago na cabeça.

E você? Será que não consegue sair desse casulo cinza e descobrir um mundo de cores nunca vistas lá fora?

Comece a mudar agora!

Por que?

Porque é bom lembrar que você vai morrer.


Memento mori.