sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Os intocáveis e os incômodos

 Alexandre de Moraes sempre se imaginou como um semideus togado, pairando acima do bem e do mal, distribuindo sentenças como Moisés entregava tábuas da lei. Mas eis que, de repente, o Olimpo rachou. Donald Trump, Elon Musk e uma turma de empresários resolveram lembrar ao excelentíssimo ministro que, fora do Brasil, a liberdade de expressão ainda é um conceito levado a sério. E agora? O todo-poderoso censor da República exclui sua conta no Twitter/X, talvez para evitar as notificações judiciais, talvez por não saber lidar com o fato de que, pela primeira vez, sua autoridade encontrou resistência.

Mas há outras prioridades. Bolsonaro precisa ser preso. Não importa se as provas do "golpe" de 8 de janeiro são mais frágeis que promessas de campanha, o importante é que o ex-presidente continue inelegível. O Brasil precisa manter sua democracia blindada – contra o voto popular, claro. O problema é que, quanto mais Moraes se apressa, mais Lula tropeça. A cada bravata do presidente, a economia sangra, os preços disparam e até os aliados começam a repensar se vale a pena sustentar um governo que se especializou em desculpas, não em soluções.

Enquanto isso, a realidade dos brasileiros segue implacável. O Plano Safra perde subsídios, os agricultores se preparam para um cenário de encarecimento brutal, e a inflação já ensaia um novo voo. Mas Lula, como sempre, prefere se ocupar de suas próprias fábulas: diz que é culpa do agronegócio, do mercado, dos banqueiros, dos extraterrestres, quem sabe. Culpa própria, jamais. E para reforçar que a Justiça é apenas um teatro de conveniência, seus antigos aliados da Lava Jato – aqueles mesmos que confessaram seus crimes – têm suas penas anuladas como se fossem apenas personagens mal compreendidos de um enredo distorcido.

No Brasil, não se governa, se apaga incêndios. Mas os bombeiros do Planalto andam desorientados. O presidente aposta na comunicação para salvar sua imagem, mas nem o marqueteiro mais esperto consegue fazer um pão francês custar menos ou um litro de leite virar suco gástrico. A paciência do brasileiro, essa sim, é um recurso cada vez mais escasso.

E agora, Lula? A crise é real, a oposição cresce, os aliados se inquietam e os intocáveis começam a ser tocados. Talvez esteja na hora de perceber que censura e bravatas não enchem prato nem pagam conta de luz. Talvez. Mas aí já seria pedir muito.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

A insustentável leveza do desastre

 Lula já foi chamado de muitas coisas: operário, messias, injustiçado, salvador da pátria. Hoje, é apenas um fardo. Um fardo pesado, caro e sem manual de instruções. Sua popularidade, outrora sustentada por promessas e slogans reciclados, despenca mais rápido que o real diante de qualquer oscilação do mercado. Os números falam por si: 24% ainda insistem em acreditar, talvez por hábito, talvez por teimosia. O resto do país já percebeu o óbvio: o governo é um fiasco.

O fenômeno seria cômico, não fosse trágico. A economia está em frangalhos, o dólar faz festa, a inflação manda lembranças e, no meio do caos, o presidente segue sua rotina habitual de culpados terceirizados. O problema nunca é dele. É da "herança maldita", do Congresso, da elite, do clima, de Marte, de Plutão. Só falta culpar a astrologia por seu desastre econômico. Enquanto isso, o brasileiro tenta pagar uma conta de supermercado que aumenta mais rápido do que discurso de político em campanha.

Mas não sejamos injustos. Lula não está sozinho nessa epopeia de incompetência. Sua musa, Janja, prova que ser primeira-dama no Brasil não exige mais do que um cartão de embarque na primeira classe e um talento especial para fingir relevância. De hotéis cinco estrelas a agendas de puro folclore, sua gestão como "primeira-turista" do país está cada vez mais impopular. Descobriram que ela serve para tanto quanto uma nota de três reais: circula muito, mas não tem valor algum.

A solução? O governo aposta na comunicação, como se uma boa edição de vídeo fosse capaz de baratear o arroz e o feijão. Não será. Pode-se maquiar estatísticas, manipular manchetes e distribuir promessas como quem joga pão a pombos. Mas o brasileiro sente no bolso aquilo que a propaganda tenta esconder. E, por mais que Lula e sua trupe queiram transformar narrativa em realidade, o preço do café continua a desafiar o melhor dos marqueteiros.

Dois anos restam. E o que fazer? O impeachment é um desejo crescente, mas seria uma solução ou um alívio momentâneo? Melhor deixá-lo ali, tropeçando nas próprias bravatas, até que a história o empurre para seu merecido ostracismo. O que resta de sua popularidade vai derretendo ao sol da própria incompetência, e, ao fim, talvez nem precise ser removido.

A democracia tem dessas ironias: às vezes, a punição perfeita é deixar o culpado terminar o serviço. No caso de Lula, significa vê-lo arrastar seu governo até o último suspiro de credibilidade, provando, com cada nova pesquisa, que a única coisa que ainda consegue construir é a rejeição de um país que já não aguenta mais.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

A ópera dos 90%

Se Dante Alighieri fosse brasileiro, certamente teria reservado um círculo especial no inferno para governos incapazes. O círculo dos 90%, quem sabe, onde almas penadas de mandatários incompetentes arderiam ao som das manchetes de jornais e das lamentações de seus eleitores. No caso de Lula, esse número mágico não vem de sua aprovação — que já teve dias melhores —, mas da rejeição retumbante que assombra seu governo. E por que não? Com o dólar voando, preços subindo e Haddad apresentando pacotes fiscais com a profundidade de uma monografia mal escrita, era de se esperar que o Brasil perdesse mais do que a paciência: perdeu a confiança.

Ah, Haddad! O eterno aluno de ouro da pedagogia petista. Prometeram cortes de gastos, reformas, algo que trouxesse um fiapo de alívio ao mercado. O que entregaram? Mais um carnê de crediário fiscal, desses que ninguém quer pagar. Os investidores, que são pragmáticos e alérgicos a demagogias, trataram de virar as costas. O resultado? Lá se foi nossa classificação internacional, despencando como os índices de popularidade de um presidente que parece mais preocupado com discursos do que com ações.

Enquanto isso, o povo, que um dia foi agraciado com slogans de "nunca antes na história deste país", agora descobre que o “antes” talvez não fosse tão ruim assim. Restam dois anos de mandato, e o futuro parece um campo minado de decisões desastradas. Se nem o mercado acredita mais no Brasil, por que o brasileiro deveria?

O problema de Lula não é só a economia – embora ela pese como um elefante nas costas de quem tenta sobreviver. É a sensação generalizada de que o barco está à deriva, capitaneado por quem está mais interessado em manter sua retórica do que em encontrar o rumo. Um governo que, ironicamente, prometeu inclusão social, mas conseguiu unir ricos e pobres na mesma indignação: os primeiros fugindo, os segundos revoltados.

E o que dizer dos próximos dois anos? Se formos acreditar na lógica dos 90%, há de se esperar que, no fim deste mandato, Lula tenha a aprovação de quem ainda acredita em Papai Noel. Porque a confiança no governo, no mercado e no futuro do país, esta já ficou para trás, como uma promessa de campanha esquecida na gaveta.

Restará ao brasileiro continuar sua sina histórica: sobreviver aos governos que escolhe e às consequências que não escolheu. Dois anos é muito tempo. Ou pouco, dependendo do ângulo. Mas, no Brasil, tempo é o que menos importa. Aqui, o caos não usa calendário.

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Golpes imaginários e quedas bem reais

Se o Brasil fosse uma novela, seria dessas que passam na sessão da tarde, cheia de dramas mal ensaiados e vilões imaginários. No episódio mais recente, Lula, nosso dramaturgo-mor, segue encenando sua eterna luta contra um golpe que nunca veio, enquanto o país despenca ladeira abaixo na classificação mundial, o dólar bate os 6 reais, e a economia dança um samba desengonçado. Golpes reais, ao que parece, são privilégio exclusivo do mercado.

Haddad, o eterno aluno esforçado que nunca entrega a lição certa, faz suas apresentações PowerPoint com gráficos coloridos e palavras otimistas, mas ninguém acredita. Nem ele, talvez. Enquanto isso, investidores fogem mais rápido que políticos em CPIs, e o pobre cidadão brasileiro assiste, desolado, ao real perder seu último resquício de dignidade. Um governante competente tentaria remediar o desastre. Lula, porém, prefere dar entrevista sobre conspirações invisíveis e relembrar suas glórias de outrora, quando o Brasil ainda acreditava em contos de fada.

E o golpe? Ah, o golpe! É o fantasma conveniente que justifica tudo: a inflação descontrolada, a fuga de capitais, o desespero na classe média. Lula grita "golpe" como quem espanta mosquitos, enquanto o país afunda em problemas bem mais concretos. Não é preciso um general de óculos escuros e botas pretas para derrubar este governo. O mercado e a incompetência já estão fazendo esse trabalho com eficiência exemplar.

O curioso é que, no meio desse caos, o povo brasileiro mantém sua resiliência – ou seria uma teimosia ingênua? Continuamos a acreditar que dias melhores virão, mesmo quando quem está no comando parece mais interessado em lutar contra moinhos de vento do que em construir qualquer coisa que preste.

Enquanto Lula se ocupa com seu teatro do absurdo, o dólar dispara, os preços sobem, e o Brasil descobre que a única coisa mais imaginativa do que os golpes inventados pelo governo são as desculpas que ele dá para sua própria incapacidade. Golpes podem ser fictícios, mas a conta do supermercado, infelizmente, não é.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Janja, Musk e a ópera bufa do poder

 Não é todo dia que uma primeira-dama se lança na arena internacional para xingar um bilionário excêntrico que, com todas as suas idiossincrasias, mais parece saído de uma distopia cyberpunk. Mas eis que Janja, entre um post sobre cachorrinhos e um selfie no Alvorada, decide mirar sua indignação no homem que manda satélites ao espaço e administra uma das maiores redes sociais do mundo. O motivo? Vá entender. Talvez a gravidade do Brasil já não seja suficiente para segurar certas mentes em órbita.

Elon Musk, para quem ainda vive num barraco sem Wi-Fi, não é só um empresário. É o ícone do século XXI, amado e odiado em doses cavalares. Um visionário que às vezes erra o alvo, mas sempre está na vanguarda, agora envolvido até mesmo no governo de Donald Trump, reeleito para desfazer o caos americano com o mesmo estilo caótico que o caracterizou antes. O problema? Janja não leu o memo. E, como toda boa ativista de sofá, soltou seus impropérios sem medir as consequências. Decoro, afinal, é coisa de burguesia.

O mais irônico – e aqui não posso deixar de rir – é que, enquanto Janja grita contra Musk, seu marido, o sempre performático Lula, segue o baile de incompetências com uma elegância de paquiderme na loja de cristais. O governo desanda, a inflação não se estabiliza, e o Brasil patina na lama da mediocridade. Mas há tempo para tudo: ataques gratuitos, polêmicas desnecessárias e, claro, a velha tentativa de transformar a inépcia em virtude.

E que ninguém diga que Janja é só figura decorativa. Ao contrário, ela se tornou um espelho perfeito do governo que representa: barulhento, desajeitado e sem noção de prioridades. Musk, de sua torre de foguetes, certamente riu. Já o resto do mundo, perplexo, anota mais um capítulo da ópera bufa brasileira. Se o Brasil ainda fosse uma piada, pelo menos seria original. Agora, nem isso.

Por fim, resta a reflexão: como uma nação com tanto potencial consegue escolher líderes que, ao invés de comandar, transformam o país num reality show de segunda categoria? Janja grita, Lula se esquiva, e o Brasil assiste. E Musk? Ele orbita. Porque, ao contrário de nossos ilustres governantes, ele entende que o futuro não se constrói no grito. Se constrói na ação. Coisa rara por aqui.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Memento mori: Precisamos falar sobre a morte

Memento mori é uma expressão em latim que significa algo como "lembre-se de que você é mortal", "lembre-se de que você vai morrer" ou, traduzido ao pé-da-letra, "lembre-se da morte".

Nós evitamos falar da morte com as pessoas, principalmente com os mais jovens. “Eles têm a vida toda pela frente” – pensamos – “Por que falar sobre a morte? Isso é mórbido. Eles se preocuparão com isso quando estiverem velhos”.

A verdade é que nem todos chegarão à velhice para só aí pensarem na morte. Muitos partem bem antes e nunca pensaram nisso. E, a bem da verdade, não importa se a pessoa morre aos 30, 40, 60 ou 80, sempre diremos: “Não era a hora ainda”. Como se pudéssemos decidir ‘quando’ e ‘como’ partir simplesmente circulando um dia no calendário – bem lá na frente, de preferência.

Ao contrário do que muitos dizem, pensar na morte não é mórbido. Pois isso nos faz refletir sobre a vida. Lembramos que este é e sempre será o destino reservado a todos, sem exceção. E o fato de perceber que a vida é finita pode ser um dos maiores motivadores para vivermos plenamente.

O relógio está correndo e, a cada segundo que você respira, dê graças a Deus por estar vivo. Hoje, agora, neste exato momento, alguém respirou pela última vez. O cotidiano e as distrações da vida nos impedem de lembrar que, um dia, nós também exalaremos nosso último suspiro. Não apenas nós, mas todos aqueles que amamos também.

Em 2012 perdi um grande amigo para o câncer. Ele lutou até o fim, sem reclamar e nunca se entregar. Mas, infelizmente, a doença o venceu. Ele estava na faixa dos 30 anos, deixou a esposa e um filhinho de cinco anos.

Em 2016 perdi uma amiga para a leucemia. Ela lutou até o fim, sem reclamar e nunca se entregar. Mas, infelizmente, a doença a venceu. Ela estava na faixa dos 30 anos, deixou o marido e um filhinho de cinco anos.

Em 2021 perdi um grande "amigo-irmão" para o covid-19, de forma tão inesperada que nos deixou em choque. Estava internado, mas já se falava em alta. Infelizmente sua oxigenação caiu drasticamente, precisou ser entubado, mas teve uma parada cardíaca no processo e não resistiu. Ele tinha 42 anos e deixou a esposa.

O luto e o pesar ainda são recentes e a sensação é surreal, como se pudéssemos reverter os acontecimentos apenas com o pensamento. A mente demora um pouco para aceitar e assimilar tudo.

Eu acredito que tudo acontece por uma razão e um fim, e isso nos beneficia. “Ora, Emílio!” – você dirá. “Qual o benefício da morte de uma pessoa querida para sua família e amigos”? Veja bem, eu disse que acredito que tudo tem uma razão e um benefício, e não que isso seja uma verdade empírica. Você tem o direito de discordar.

De fato, família e amigos não têm um benefício concreto na morte de alguém que amam – a menos que extraiam esse benefício do ocorrido. Prefiro mil vezes ter quem amo do meu lado do que tentar encontrar alguma vantagem em sua morte, mas se não pensarmos dessa forma, o luto se prolonga, a dor é crescente e ficamos estagnados nos perguntando “por que”.

E é nesse momento que devemos parar de olhar para trás e encarar o caminho que ainda temos que percorrer. Não sabemos por quanto tempo ainda permaneceremos nele, mas é importante aprender com as lições daqueles que já partiram. O que nos ensinaram, ainda que sem dizer palavra alguma? O que faziam de bom que você também pode fazer? Como encaravam a vida?

Perceber que iremos morrer nos coloca sob uma perspectiva diferente diante do mundo. Você ainda perde tempo falando de política e se revoltando com as notícias do dia? Você ainda reclama porque pega trânsito? Você ainda se preocupa com a conta que vai vencer? Resmunga do frio? Xinga o calor? Discute por bobagens?

Pois é bom lembrar de que muitos dariam tudo para terem problemas financeiros ao lado de alguém que já partiu. Outros sofrem silenciosamente o remorso por não terem dito “eu te amo” o suficiente. E outros não tiveram tempo de fazer as pazes por causa de uma briga idiota.

Você quer um sentido e um benefício na morte de alguém que ama? Então VIVA! Viva plenamente, todos os dias! Alegre-se pelo sol entrando pela janela de manhã. Sorria com a chuva caindo à tarde. Apanhe uma flor caída no chão e delicie-se com o perfume que ela exala. Seja grato por cada segundo de vida que tem. E use esses segundos, minutos, horas e dias que você tem para melhorar a vida de outras pessoas.

Mais importante do que lembrar de que você vai morrer é lembrar que a pessoa que você ama vai morrer. Quem hoje divide alegrias e tristezas ao seu lado, amanhã já não poderá mais estar aqui.

Basta uma ultrapassagem errada. Basta ir a pé em vez de ônibus. Basta ir de ônibus em vez de ir a pé. Basta entrar no avião. Basta reagir ao assalto. Basta não reagir ao assalto. Basta a picada de um mosquito. Basta um exame a mais que o médico pediu. Basta ir dormir. Com toda a nossa fragilidade e insignificância, de onde inventamos que somos indestrutíveis?

A sua vida deve ser vivida agora. Não daqui a pouco. Não quando terminar de ler este texto. Não amanhã. Não depois do trabalho. Mas AGORA. Agora é o momento de dizer: “Eu te amo”, “quer casar comigo?”, “vamos ter um filho”, “eu me demito”, “eu aceito”, “eu vou conseguir”, “vamos mudar de país”, “vamos viajar”, “vai dar tudo certo”.

Vai! Dê esse passo agora! Corra atrás dos seus sonhos, por mais loucos e impossíveis que pareçam. Não deixe ninguém te segurar ou dizer que não vai dar certo. Vai dar certo sim. Você vai conseguir, eu tenho certeza disso.

Olhe agora para a pessoa que você ama. Seja sua esposa, seu marido, seus filhos, seus pais, seus avós, seus netos, seus amigos. Diga a eles que você vai morrer. E que eles também morrerão. E justamente por isso, estreite todos os laços de afeto que estavam frouxos.

Sim, eu sei que seu pai é chato. Sei que sua mãe te sufoca. Mas um dia você sentirá falta da chatice e do excesso de zelo deles. E é bom ter outra coisa em mente: Eles poderão sentir sua falta primeiro. Por isso, tenha a certeza de que fez tudo por eles. Coloquem as cartas na mesa, joguem fora tudo o que criava distância e inimizade, deixando apenas o amor fluir.

Viva! Viva intensamente e com total plenitude. Não aceite a metade ou um pedaço, busque o todo!

Amanhã, quando estiver indo para a academia entediado com sua vidinha chata, mude a rota e vá para o cemitério mais próximo. Pare ali por uns momentos e visite os velórios que estiverem sendo feitos. Crianças, idosos, adolescentes e adultos dentro de um caixão, com todos em volta chorando e lamentando. Deixe essa cena ficar bem gravada na sua mente, pois é dessa mesma forma que você terminará os seus dias. Você consegue consolar algumas daquelas pessoas, mesmo que nunca as tenha visto antes?

Agora reavalie-se: Será que a sua vidinha é mesmo tão chata? Será que você consegue olhar para si mesmo e ser grato por algo? Pelo seu emprego? Pelo seu casamento? Pelos seus filhos? Pelos problemas? Pelos amigos? Pelo vaso horrível da sala que a pessoa que você ama tanto queria?

Falar sobre a morte não é mórbido, é necessário. É a certeza da morte que torna a vida magnífica. Talvez um dia você esteja lendo este meu texto e eu já não estarei mais aqui.

E se você está vivenciando um luto, extraia desse momento a força necessária para mudar a sua vida. Vá fazer o que você nunca fez. Vá falar o que você nunca falou. Faça algo pela primeira vez – e torne a fazer outras vezes. Pare um desconhecido na rua e diga e ele que a vida é breve demais para andar olhando para o chão.

Faça alguém sorrir! Ou faça alguém chorar (de alegria).

Mas pelo amor de Deus, pare de ser insípido e morno! Seja intenso! Pare de ver a matemática em tudo e comece a rir dos formatos dos números.

Uma criança consegue sair da tristeza para a alegria simplesmente pulando no sofá da sala como se fosse uma cama elástica. Seu cachorro que estava bravo abana o rabo após receber um afago na cabeça.

E você? Será que não consegue sair desse casulo cinza e descobrir um mundo de cores nunca vistas lá fora?

Comece a mudar agora!

Por que?

Porque é bom lembrar que você vai morrer.


Memento mori.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Era uma vez...

Séculos atrás, quando eu estava no primário e os cientistas haviam recém-descoberto o fogo, lembro de um episódio na aula de português.

A professora havia nos ensinado sobre o uso de reticências, dizendo que eram usadas para indicar que a frase continuaria na “cabeça do leitor”, apesar de não estar escrita. E nos deu uma lição de casa: trazer uma redação no dia seguinte que contivesse um exemplo do uso das reticências.

No dia seguinte, perguntei a um coleguinha de classe se ele tinha conseguido fazer a lição de casa.

Orgulhoso, me mostrou a folha de papel almaço com a seguinte redação:

“Era uma vez...”

terça-feira, 21 de abril de 2020

Um alerta às pessoas de Direita

Deixa eu contar uma coisa para você:

Anos atrás eu me definia, politicamente, como 'Conservador de Direita'. Isso por causa dos valores pessoais que defendia (e defendo).

Entre esses valores, está a liberdade individual e a pouca influência do Estado na vida das pessoas.

Com o tempo, conheci o Libertarianismo, que abandona os valores morais do conservadorismo, mas amplia a liberdade pessoal e defende o Estado Mínimo, que praticamente não atua em nada, existindo apenas para manter a ordem e a paz.

Sendo mais extremo, me interessei pelo Anarcocapitalismo (Ancap), que prega a dissolução completa dos governos, onde viveríamos apenas pelas Leis de Mercado.

Também gosto do Objetivismo, filosofia de Ayn Rand, que prega o 'egoísmo racional', onde os homens devem ser recompensados por suas capacidades e nunca por suas necessidades. O Objetivismo também defende a liberdade individual e interferência mínima do Estado nas nações.

Hoje já não é possível me definir politicamente, pois sou um amálgama de todas essas posições acima. Não as levo a ferro e fogo, mas tento extrair o melhor de cada uma.

E POR QUE ESTOU FALANDO ISSO?


Porque você notará que, desde a Direita tradicional até o Anarcocapitalismo, todos pregam MENOS governo e MENOS atuação do Estado (seja na saúde, previdência, educação, economia, impostos, etc.).

Do outro lado desse espectro político está a Esquerda, que prega o oposto: MAIS controle do Estado sobre as pessoas, MAIS governo, MAIS impostos, etc. Disso culmina-se o Socialismo e o Comunismo, sempre abomináveis.

Assim, se você se diz ser de Direita, está defendendo um Estado menor, menos influente e com menos poder. Menos políticos, menos cargos, menos impostos, menos leis.

Por isso, quando você, de ‘Direita’, clama pela intervenção militar, pelo AI-5, pela volta da ditadura, você está transmitindo a seguinte mensagem: “Eu quero mais Estado! Eu quero que o Governo tome as decisões por mim! Eu quero menos liberdade!”

Você tem todo o direito de pensar assim. Mas só quero te mostrar que você não pode se dizer, em hipótese alguma, de Direita.

Aquela camiseta verde e amarela que você usa nas manifestações é, na verdade, vermelha.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Por que sou contra a democracia


Ao contrário do que muitos acreditam, ser contra a democracia não o torna, automaticamente, um apoiador de ditaduras e do totalitarismo. Só pensa assim quem não quer fazer um esforço racional para enxergar uma terceira via.

Muitos vendem a ideia de que a democracia é o suprassumo da civilização. Não é! A liberdade – incontestável e inegociável – é o ápice do que podemos definir como principal coluna de uma sociedade civilizada.

Defendo a liberdade acima de qualquer coisa – inclusive acima da igualdade (e se você não concorda comigo, deixo aqui um ótimo exercício de lógica e razão para sua mente, pois não darei uma explicação fácil).

A liberdade individual deve estar acima de tudo. E com ela, todo o peso da responsabilidade que isso traz. O indivíduo ė mais importante do que o coletivo, pois ele é a verdadeira ‘minoria’. Por isso mesmo ele não pode delegar a outrem as decisões mais importantes da sua vida. Não é o voto, mas a liberdade de tomar uma atitude racional e consciente, individualmente, que nos leva ao progresso. Qualquer coisa fora disso é apenas ‘gado’ e ‘manada’.

Os que tanto defendem a democracia tiveram que escolher entre Trump e Hillary; Bolsonaro e Haddad. Fantásticas opções, não? Aí os vencidos reclamam da escolha da maioria – sem se darem conta de que esta é justamente a base da democracia.

Só você sabe o que é bom para você mesmo (e não para o resto do mundo). E desde que isso não prejudique ou interfira na liberdade individual de outro, seja feliz com suas escolhas. Mas se você não sabe o que é bom pra você ou se faz escolhas erradas, encare que a responsabilidade é unicamente sua e aprenda com seus erros – nada de culpar o ‘sistema’, a ‘sociedade’ ou a ‘vida’.

Os bons líderes de grandes corporações são ‘facilitadores’ de suas equipes. Eles não estão lá para dar ordens ou mostrar o caminho, mas para ajudar sua equipe a funcionar removendo obstáculos, para que todos sejam ‘auto-gerenciáveis’. Um bom líder político, se seguisse esse pensamento, entenderia que não há maior obstáculo para uma nação do que o próprio Estado, cuja ineficiência traz miséria e sofrimento. Então, ele daria um passo para o lado, removeria esse obstáculo e deixaria a nação crescer sozinha, com liberdade.

E entenda que liberdade não significa libertinagem e nem que ‘tudo é permitido’. Leis são necessárias para que haja ordem e civilidade. A justiça é necessária para que haja o cumprimento das leis. Mas o governo e as eleições ‘democráticas’, estes em nada acrescentam ao mundo – ao contrário, trazem apenas desgosto e atraso.

“Ah, mas sem governo estaremos fadados à barbárie!” Será? Pois a Espanha, em 2016, passou um ano inteiro sem governo e teve um crescimento maior do que o da Alemanha, França e EUA.

“Ah, Emílio, mas é a Espanha, cultura europeia, etc.”, você dirá. Pois é, então o cerne da questão é justamente a responsabilidade e liberdade individual de cada cidadão, e não a democracia, certo? O povo soube fazer suas escolhas sozinho, sem governo, e teve um ano próspero. E se não souber, aprenderá pelo caminho da dor.

Por isso, criticar a democracia não me aproxima de déspotas. Ao contrário, me afasta dos que usam essa palavrinha para escravizar o povo – George Orwell entendeu bem essa questão.

Que mais não seja, democracia significa “poder do povo” (demo = povo; cracia = poder). Então, não existe democracia se não houver a liberdade para cada pessoa escolher individualmente como quer viver sua vida – se quer ter armas em casa ou não; se quer usar drogas ou não; etc.

A liberdade, meu caro, requer doses cavalares de responsabilidade, razão e lógica; e não de discursos emotivos e populistas de salvadores da pátria que surgem com a conversinha de lutar pelos direitos dos outros. É por isso que muitos preferem delegar as decisões da sua vida aos políticos do que encará-las de frente – dá muito mais trabalho.

Se o direito é seu, exerça sua liberdade individual de lutar por ele. Não delegue isso a ninguém, especialmente por meio de algo tão efêmero e inútil quanto o voto.

domingo, 6 de novembro de 2016

Por que parei de ler notícias (e por que você deveria fazer o mesmo)

Há um bom tempo deixei de ler notícias. Ou, colocando em outra perspectiva, deixei de me importar com notícias. Parei de acessar sites de notícias do país e, principalmente, deixei de ler sobre política, tema pelo qual sempre me interessei.
Não que esteja alienado, pois é impossível não saber ao menos as principais manchetes, já que elas chegam até você, queira ou não.
Mas procuro não clicar nos links e, também, tenho cumprido o que prometi a mim mesmo: Nunca mais debater na internet.
Eu já andava meio distante das notícias e evitando embates inúteis, mas acabei por remover essa perda de tempo definitivamente.
Tomei essa decisão quando ouvi alguém que admiro comentar que “somos só peregrinos aqui”. Por mais óbvio e clichê que essa frase pareça, e por mais que já a tenha ouvido antes, naquele dia ela ecoou diferente dentro de mim e foi o empurrão que faltava para que eu tomasse essa decisão em definitivo, livrando-me finalmente do que me fazia perder tempo.
E o que isso mudou efetivamente na minha vida?
O primeiro ganho imediato foi a paz. A indescritível sensação de alívio ao notar que você vive bem (e melhor!) sem tantas informações no seu dia. Você não precisa saber tudo o que está acontecendo, e muito menos se importar com tudo.

Foi como se tivesse removido um muro que carregava nas costas todos os dias. Afinal, você acaba percebendo não faz nada de útil com as notícias que lê. Ao contrário, elas te deixam mais irritado e nervoso.

O político tal foi pego em corrupção? Aquele outro quer acobertar falcatruas? Estão querendo mudar isso ou aquilo? Ganhou este ou aquele na eleição? O ator/atriz apoia isso ou aquilo? E daí? Há quem os aplauda, e há quem os critique. Eu resolvi não ser nenhum dos dois, pois, olhando hoje quem ainda continua debatendo nas redes sociais, noto o quão chato e inconveniente fui. E com isso, vem o alívio de não mais fazer parte desse atraso de vida.

Isso não muda em absoluto minhas convicções, crenças e valores. Eu não preciso ficar argumentando, debatendo e ‘provando’ que estou certo, enviando links e citações a quem quer que seja. A mim, basta-me a paz e exemplificar minhas crenças no meu modo de viver e tratar os outros. Buscar sempre a razão e a lógica pode ser o maior limitador da sua vida.

Meu segundo ganho foi o tempo. Para ser mais produtivo e para estudar o que realmente faz a diferença na minha vida. Como disse no início do texto, não parei efetivamente de ler notícias, mas deixei de me importar com as que em nada me acrescentam.

Ainda gosto de bom jornalismo, de bons textos e artigos. Estes eu encontro lá fora. Seja o Corriere della Sera italiano, o Le Monde francês, o El País espanhol e um ou outro artigo de negócios do Huffington Post americano (que não é grandes coisas, também). Estes dois últimos, por sinal, têm versões brasileiras que recomendo passar longe – falta à criançada que lá escreve boas doses de realidade, maturidade e espírito investigativo em vez de opinativo.

Minha fonte de informações mais eficaz tem sido o Flipboard, aplicativo que agrega notícias de acordo com as preferências de leitura do usuário. Montei lá minhas ‘revistas digitais’ com os temas que me interessam e são relevantes para o meu trabalho e desenvolvimento pessoal (sem nenhuma fonte brasileira, diga-se de passagem), e é dali que tiro minhas informações.

Sem falar nos livros – tanto os de papel quanto os e-books. Estes não faltam aqui em casa.

Assim, caríssimo leitor, se você tem vontade de deixar para trás o que em nada lhe acrescenta, se quer sentir-se mais leve e livre de sentimentos negativos, se quer parar de se irritar e ficar brigando com seus amigos, vai, dá esse passo agora: Fecha essa página de notícia. Ela não é mais importante do que a sua paz de espírito.

A opinião daquela pessoa não “dividiu a internet”, pois amanhã ninguém vai lembrar dela. Aquele vídeo ou foto não “viralizam”, pois só meia-dúzia de leitores do site viu e já esqueceu.

Os veículos de comunicação se preocupam mais com pageviews do que com fatos. Não caia nessa – se eles realmente quisessem oferecer conteúdo de qualidade, dariam pouca ou nenhuma visibilidade às seções de entretenimento (que falam da vida dos ‘famosos’, novelas, etc.). Mas como a quantidade de parceiros sexuais daquela atriz rende mais acessos, que se há de fazer?

Sim, é importante estar bem informado. E uma rápida corrida de olhos nas principais manchetes do dia é o suficiente para isso. Se quer ler algo que valha a pena, então comece pelas seções de Dinheiro e Economia, junto com as de Ciência e Tecnologia. É lá que está o que realmente interessa.

Que mais não seja, é gratificante a sensação de quando alguém chega para você, esbaforido, e pergunta “soube da última”? E você, com um sorriso no rosto que lhe confere o aspecto de um Buda embriagado, apenas responde: “Não, e não preciso saber”.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Não foi o Fabinho!

Por anos isso me acompanhou e me consumiu por dentro. Sempre que eu tentava esquecer, o fato voltava à mente e me tirava a paz. Você não faz ideia do que é ser o único a saber de algo e guardar para si por tanto tempo.

Como já não tenho paz e não desejo levar isso para o túmulo, finalmente decidi desabafar. Relato a seguir os fatos tais como realmente aconteceram:

A sala estava cheia. Diversas mesas dispostas aleatoriamente reuniam grupos de quatro ou cinco de nós ao seu redor. Cada grupo envolvido em suas atividades, e cada indivíduo concentrado nos seus afazeres.

Apesar disso, havia conversas e risadas – muitas vezes para aliviar a tensão do que estávamos fazendo. Para muitos ali, era a primeira vez que se deparavam com algumas daquelas tarefas e instrumentos.

Eu mesmo estava nervoso, pois a coisa toda não era fácil e exigia muita coordenação. A simples ideia de não conseguir terminar nos apavorava. Nós ouvíramos histórias do que acontecera a quem não concluía o que lhes fora ordenado, e eram terrivelmente assustadoras.

Talvez esse medo tenha influenciado meus atos.

Lá estávamos nós, reunidos e concentrados no trabalho quando, em uma impensada atitude –para mostrar aos outros que eu era ousado e destemido – ergui a tesoura até a altura da minha testa. Os olhos assombrados de toda a mesa se voltaram para mim. Sentindo a adrenalina tomar conta do meu corpo e sabendo que, depois disso, minha reputação cruzaria oceanos, não titubeei.

Puxei uma mecha dos meus cabelos (naquela época a franja quase me cobria os olhos) e, com um movimento seco e certeiro, cortei-a com a tesoura, jogando-a no chão. Os colegas ao redor não acreditaram no que viram. Naquele momento, eu estava acima de todos eles. Eu era o melhor. O mais admirado. Eu reinava absoluto e nada poderia me deter. Nada!

 A não ser, é claro, o infortúnio. Minha reputação teria cruzado oceanos e hoje eu estaria em alguma cobertura em Dubai, dando festas memoráveis e sendo idolatrado em todo o mundo. Mas quis o destino que o caminho levasse a um desfecho diferente, ali mesmo, naquela mesma tarde.
Foi quando ela surgiu. Ela sempre passava por ali, mas nunca lhe déramos atenção. Ela era quase invisível para nós. Mas, naquela tarde, ela parou ao meu lado. Foi quando o meu reinado desmoronou.

A tia da limpeza, que varria a sala, abaixou e pegou a mecha do meu cabelo. Olhando para nós, ela perguntou: – Quem fez isso? Silêncio. Ela insistiu. Ninguém abriu a boca. Então ela olhou para nós, um por um, até que seus olhos pararam em mim. Eu usava um cabelo ‘tigelinha’ e não era difícil perceber que algo faltava na minha testa. Ela esticou o braço e encaixou a mecha de cabelo na falha da minha testa, tal qual uma peça de quebra-cabeça.

No mesmo instante ela me pegou pelo braço e me levou à sala da diretora. Um pavor inominável se apoderou do meu corpo. Eu não conseguia pensar, não conseguia falar e nem respirar. As lágrimas já brotavam dos meus olhos. O terror do desconhecido fazia meu coração parar.

Não ouvi direito o que a faxineira e a diretora diziam. Algo como “poderiam ter se machucado” ou coisa assim. A diretora olhou para mim e perguntou: – Quem fez isso?

Então eu, que minutos antes transbordava autoconfiança e poder, derreti-me em um pedaço de geleia e, entre soluços, covardemente exclamei: – Foi o Fabinho!!!

E chamaram o Fabinho, que estava sentado ao meu lado. E o Fabinho, aos prantos, negava veementemente ter feito aquilo. O Fabinho levou uma bronca. Ele não ajoelhou no milho, não ficou trancado no quarto escuro onde habitava o monstro e nem foi tirado para sempre do seio de sua família, como nas histórias que ouvíramos. Mas levou uma bronca. E eu também. Mas a culpa ficou com Fabinho.

Voltamos à mesa, para continuar nosso trabalho da Pré-Escola, de colagem e pintura. Mas as coisas haviam mudado. Eu não era mais o maioral. E o Fabinho chorava, sendo consolado pelos outros colegas. Eu me senti um verme desprezível, mas, por medo e vergonha, jamais contei a verdade. Até hoje.

Hoje expurgo esse sentimento de mim. Hoje faço as pazes comigo mesmo, revelando ao mundo essa atitude covarde e criminosa que escondi de todos desde o ano de 1980.

Hoje, ainda que tantos anos tenham passado, posso ao menos reconstruir a cena na minha mente e, quando a fatídica pergunta me é feita mais uma vez, tenho a coragem de encher o peito e exclamar aliviado:

– Não foi o Fabinho!

E do Fabinho, nunca mais tive notícias – espero que esse incidente não o tenha levado para uma vida de crimes e perdição. Do Pré fui para a 1ª série, em outra escola, e jamais tive contato com a velha turma.

Se você, que está lendo esta bombástica revelação, conhece o Fabinho, que estudou na Escolinha Padre Raposo, em 1980, na Rua Cuiabá, na Mooca, peço-lhe a gentileza de compartilhar este texto até que chegue às mãos dele. Nunca é tarde para corrigir os erros do passado.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Brasileiros pagam R$ 15 mil para ouvir pessoas falando português

Pelo preço de uma viagem de sete dias à Europa, você pode desfrutar a virada do ano em... São Paulo. É o que nos diz a matéria de Alexandre Bazzan para o Estadão, que você pode ler aqui.

De acordo com a reportagem, os preços de hospedagem em alguns hotéis do litoral norte de São Paulo durante o réveillon equivalem a uma semana em Paris, Madri ou Berlin. O Hotel Aldeia de Sahy, por exemplo, possui pacotes para duas pessoas que variam de R$ 11 mil a R$ 13 mil. Por esses mesmos R$ 13 mil o casal pode curtir a virada do ano em Roma – passagens aéreas inclusas. Se a grana estiver curta, Lisboa ou Madri saem por R$ 8 mil e R$ 10 mil o casal.

Que hotéis brasileiros queiram aproveitar a virada do ano para faturar, nada contra. Sou ferrenho defensor do bom e velho capitalismo. Também não questiono a qualidade desses hotéis – muitos possuem padrões internacionais – apesar de hotéis europeus com a mesma qualidade não cobrarem esse absurdo.

O que me espanta é o fato de brasileiros desembolsarem pequenas fortunas para permanecerem no Brasil durante o réveillon. Ora, se tenho à disposição treze ou quinze mil reais para viajar, a última coisa que eu quero é ouvir pessoas falando português ao meu redor.

O Brasil eu o tenho o ano inteiro. Se é possível escolher, por que me acotovelar entre brasileiros pulando sete ondinhas na praia, se posso ver a queima de fogos na Torre Eiffel, ouvindo a língua de Descartes acompanhado de bom vinho? Ou caminhar pelas ruas cobertas de neve na Alemanha, apreciando a arquitetura e a história viva ecoando pelas paredes. Ou ainda curtir a animação dos madrilenos e todos os encantos que a Espanha oferece.

As pessoas que pagam caro para ficar no Brasil vivem em ‘bolhas’. São os que dizem que este é o melhor país do mundo e, mesmo quando viajam para fora, não se esforçam para aprender outro idioma e cultura. É o sujeito que vai ao Japão e acha tudo horrível porque lá não tem feijoada e churrasco.

E, claro, além do motivo cultural (ou a falta dele), há o fator status. O brasileiro, em especial o paulista, adora pagar caro para se exibir. Não é o fato de ir a um bom restaurante ou possuir um bom celular, mas sim ser visto nesse restaurante portando o celular. Ele sequer sabe mexer no celular e nem gosta dos pratos do restaurante – mas se todo mundo vai, ele tem que ir também. Perde-se aí duas capacidades intelectuais essenciais: a opinião e a comparação.

Enfim, o Brasil oferece boas opções para quem vai ficar por aqui no réveillon. E não chegam nem perto dos valores cobrados por esses hotéis.

Se você não tem condições de escapar e vai ficar no Brasil na virada do ano, faça um favor ao seu intelecto (e ao seu bolso): Não pague caro para ouvir pessoas falando português.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Sobre a inutilidade das estatísticas e institutos de pesquisa

O país viveu em outubro de 2014 um surto de indignação em relação aos institutos de pesquisa e suas estatísticas furadas durante as eleições, o que gerou piadas referentes às tais ‘margens de erro’. Margens largas e generosas, pelo visto, pois erraram (?) miseravelmente as previsões de primeiro e segundo turno entre Dilma e Aécio.

O que espanta não são erros do Ibope ou Datafolha. Espanta é ainda ver gente acreditando nesses números. Acreditar em pesquisas (qualquer uma), por mais ‘cientificas’ que sejam, é o mesmo que acreditar em horóscopo. Aliás, a semelhança entre os dois é muito maior do que você imagina.

Conheci uma pessoa que escrevia os horóscopos de vários sites e jornais. Do alto de seu conhecimento esotérico, as previsões eram escritas assim:

“Áries: Deixa ver... Hã... Para este site acho que Áries hoje está em um momento romântico e deve prestar atenção nos sinais, pois a alma gêmea está perto. E cuidado com gastos desnecessários para não ter surpresas no fim do mês.”

E então ele inventava um texto diferente para outro site, quando não requentava ‘previsões’ de anos anteriores.

De forma semelhante, tive um colega que trabalhou no Ibope e contava que vivia arredondando números e modificando resultados de pesquisas a mando dos superiores – estes por sua vez obedecendo ordens de cachorros maiores.

Por isso, não apenas desconfie, mas não dê crédito a nenhuma pesquisa ou estudo publicado – mesmo que os resultados favoreçam sua opinião.

Sem ir tão longe, conto uma experiência pessoal:

Em meus dias de Gerente de Operações em uma agência de propaganda, atendíamos a conta de uma conhecida empresa. Tudo ia bem, não fosse a intragável menina do marketing dessa empresa, que fazia a ‘ponte’ com a agência e era nosso contato direto. Não foram poucos os embates que tive com ela.

Resumindo bastante, ela arrumou confusão com praticamente todo mundo com quem teve contato e a simples a menção de seu nome causava pavor. Pessoas que eu nem conhecia direito me chamavam de lado querendo saber se ela era grossa e estúpida assim mesmo ou se era bipolar.

Certa feita, a tal empresa resolveu promover um de seus produtos para o mercado corporativo. Montaram toda a estrutura do evento, que seria realizado no salão de convenções de um hotel e transmitido ao vivo pela internet em um site específico.

Na agência fizemos o site, que seria removido um mês depois do evento. Terminada a data prevista, tiramos o site do ar. Naquele dia, a menina do marketing me pediu o relatório de acessos do site. Disse que mandaria em seguida e fui verificar as métricas.

Qual não foi minha surpresa ao notar que minha equipe havia esquecido de inserir o código de contagem de acessos em todo o site. Não havia informação alguma a ser extraída. Nada. Zero.

Após me recuperar de uma semi parada cardíaca, cogitei alternativas para o problema, mas não via solução. Era preciso explicar que não sabíamos quantas pessoas acessaram o site porque não colocáramos os códigos de rastreamento. O simples fato de imaginar a reação da menina do marketing já me fazia querer começar a mandar currículos.

Então pensei em uma alternativa. Liguei para o gerente da área de B.I. (Business Intelligence), que era nosso especialista em números e relatórios, e pedi para ele vir até a minha mesa. Expliquei o problema e disse que precisávamos desses números. “Impossível”, disse ele, “não dá pra tirar números do nada”.

Eu disse que sabia disso, mas perguntei se ele não poderia fazer alguma ‘mágica’, afinal, ele mexia com isso o dia inteiro. “Só se eu inventasse os números, mas isso seria mentir para o cliente”, ele respondeu. “Não é melhor pedir desculpas e dizer que não acontecerá de novo? Eu falo com seu contato e explico tudo, se quiser”, ofereceu-se o especialista em números.

Obrigado!”, agradeci. “Vou ligar agora para a Fulana e coloco você na linha”, respondi.

Ah... É ‘ela’...?”, gaguejou o especialista em números.

Ficamos em pé nos encarando por uns dois minutos. Então ele puxou uma cadeira, abriu o Excel e começou a digitar: “O evento começou no dia tal, deve ter dado tantos acessos. No fim de semana caiu um pouco, depois podemos aumentar o número na semana seguinte...”.

O ‘relatório’ ficou pronto em uma hora, com direito a gráficos, slides e recomendações.

Enviei o relatório para a Fulana e fomos elogiados pelo trabalho. Sabe quem mais viu esse relatório? Ninguém. Sabe o que fizeram com aqueles números? Nada. Sabe o que as empresas fazem com todas as informações que coletam? Coisa alguma.

Relatórios, pesquisas e dados não servem para absolutamente nada porque as empresas não sabem o que fazer com eles. Sabem apenas que precisam de estatísticas porque alguém pediu. E, por isso, tanto faz se os números são reais ou não – mesmo que seja para mostrar para os chefes e depois nunca mais olhar para eles.

O mesmo vale para os inúteis institutos de pesquisa. Não importa se o que divulgam é verdade ou mentira. Amanhã ninguém vai lembrar. Além disso, eles podem alterar os resultados de um dia para o outro, usando apenas algum ‘vento que sopra do oeste’ como parâmetro.

É por essas e outras que considero tais institutos um desperdício de tempo, dinheiro e pessoas. Melhor fariam se dedicando a causas mais nobres, como calcular a probabilidade de uma pessoa ser morta por uma queda de coco na praia em vez de ser atacada por tubarão.

terça-feira, 19 de março de 2013

Declaração de remoção da sociedade

Declaração de remoção da sociedade
Após lutar contra conflitos internos em inúteis embates filosóficos, decidi me remover dessa piada de mal gosto chamada ‘sociedade’. Tomei essa decisão ao ver meus dilemas se dissolvendo à luz da razão, quando uma nova realidade se descortinou diante dos meus olhos, finalmente me fazendo entender que as pessoas no mundo desistiram de pensar – algo que demorei a aceitar.


E quando as pessoas deixam de pensar os aviões caem, prédios desabam, boates pegam fogo, corruptos são eleitos, analfabetos recebem diploma, o crime compensa, a virtude é destruída, ditadores viram heróis, o vício é elogiado, famílias se dissolvem, a felicidade é artificial e a esperança é só uma palavra.

Ao entender que as pessoas abandonaram a razão, a ideia do fim do mundo fez sentido como nunca fez em toda a minha vida. E surgiu um desespero incontrolável de não querer fazer parte disso. Impossível aceitar contradições sem valor, sem objetivo, sem cérebro.

Pensar é viver! Pensar é sentir! É mudar o mundo para melhor. Pensar é reconhecer o valor das coisas e das pessoas. Pensar é criar. É buscar sua própria felicidade e sentir orgulho do que você faz. Pensar é não ter culpa. Pensar é não aceitar a injustiça. Pensar é não exigir sacrifícios e nem se sacrificar. Pensar é enxergar o divino nos pequenos detalhes que levam às grandes obras.

E para sair desse mundo que não pensa precisei aceitar que sou egoísta e preconceituoso. Surpreso? Indignado? Você também é, apenas não admite. Aliás, desconfie de quem diz não ter preconceitos, são pessoas perigosas – geralmente políticos e artistas – que vivem da demagogia, pois não têm nenhuma outra virtude.

Mas meu preconceito não é racial, sexual nem nada assim – se você é pobre, rico, gay, hetero, branco, negro, religioso ou ateu... isso não significa nada. Seu mérito não está em quem você é, mas no que você produz, no que você cria, no valor do que você oferece ao mundo – no uso da sua mente. Se você não produz nada, não pode exigir nada.

Meu preconceito é contra ideias, não contra pessoas. Por isso resolvi me afastar de tudo o que vai contra meus valores morais e éticos. “Que valores são esses?” – você pergunta. São todos aqueles que, sob uma análise racional, considero certos, verdadeiros e bons. E não vou enumerá-los aqui, pois é preciso que você pense sozinho para descobrir e aceitar esses valores. Na análise racional dos seus conceitos individuais você chegará a conclusões semelhantes às minhas e verá que estou certo.

A razão sobre a emoção


Abandonei a emoção como métrica da vida – decisões emocionais resultam em desastres. A razão deve controlar a emoção. E minha emoção, por ser íntima e valiosa, reservo para quem e o quê a merece. Você pode achar isso frio e insensível, mas não é verdade. Apenas refinei meus sentimentos. Quando isso ocorre, você se torna mais exigente, mais seletivo e indiferente a muitas coisas. Por exemplo, sou imune a notícias de acidentes, tragédias, catástrofes e coisas assim – sério, não sinto absolutamente nada. Mas choro feito criança ao assistir este vídeo.

Deixei de me importar com os sentimentos das pessoas, mas não com as pessoas. Não entendeu? É simples: Os seus sentimentos são criados pelos seus pensamentos, e o que você pensa ou sente só diz respeito a você. Eu controlo meus sentimentos, não você. E você controla seus sentimentos, não eu.

Mas gosto de ver aqueles que amo sempre bem. Se posso fazer algo por eles, faço. Não por caridade, mas pelo prazer de vê-los felizes e fazendo a vida valer a pena. Mas só ajudo quem merece. “E como saber quem merece ou não?” – você dirá. Basta pensar! Você verá que é digno de ajuda quem não pede por ela, não se faz de vítima e nem apela para o emocional.

Até a fé exige razão, pois fé é a crença comprovada. Se você acredita porque alguém lhe disse para acreditar, sua fé é fraca e manipulável. Para seguir uma religião é preciso usar a razão: Se os atos do pregador são contrários à doutrina que ele prega, então é seu dever pensar e discordar.

É a falta do pensamento racional que leva as pessoas ao eterno conflito entre corpo e alma. Se você usa a razão e o discernimento, não terá essa aflição, pois entenderá que corpo e alma possuem um mesmo propósito: devem trabalhar juntos e livres de culpa. Só erra quem não pensa. Só erra quem espera que outros pensem por ele.

Nenhum papa, padre, pastor, rabino, guru, chefe, juiz, prefeito, governador ou presidente pode controlar sua vida. A sua vida só pode ser guiada por você. Fuja de discursos emocionados e enganadores de Obamas e Lulas. Você pode precisar de orientadores, nunca de líderes. Só precisa de líder quem não quer assumir a responsabilidade pelos seus atos. Quem desiste de pensar e tem medo de tomar decisões busca refúgio no líder (que leva a culpa pelos incompetentes).

Meu bem mais precioso é o meu tempo. E somente eu decido como usá-lo. E decidi usá-lo para minha felicidade, meus objetivos, minhas conquistas. E apesar do que você possa pensar, isso não significa satisfazer desejos irracionais ou prejudicar outras pessoas. É justamente o contrário! Por reconhecer que meu tempo é precioso e limitado, eu preciso usá-lo para os melhores propósitos possíveis, que podem ser sim egoístas – não no sentido pejorativo, mas como uma virtude racional (ou individualismo), que significa me preocupar com meus interesses particulares.

Ao entender isso você percebe que não pode perder tempo com besteiras. Seu tempo é valioso demais para se preocupar com banalidades – sejam coisas ou pessoas. Não há tempo para ódio, inveja, preguiça. É imprescindível enriquecer! Isso mesmo, enriquecer! Tornar-se rico material, cultural e espiritualmente. Você terá que escolher entre aprender algo novo ou ficar em frente à TV. Terá que pensar em como aumentar sua renda usando seu intelecto em vez de reclamar que nunca tem dinheiro. Terá que cultivar virtudes cada vez mais elevadas e puras para não se deixar arrastar pelo mal. Terá que abrir mão de muitas coisas para conquistar outras.

Ao concluir isso, menos vontade você terá de viver nessa ‘sociedade’ que exige tudo de você e não lhe dá nada em troca. Perceberá que não existe diferença entre pagar impostos e ser assaltado – ambos lhe privam de seus bens contra sua vontade para satisfazer parasitas. Perceberá que a falta de educação começa a incomodar mais. Perceberá que certos assuntos já não lhe agradam. Perceberá que a companhia de um livro é melhor do que a de certas pessoas. Perceberá que música e arte devem ser sublimes e não grosseiras. Perceberá que quanto mais incapaz a pessoa é, mas ela exigirá proteção por meio de leis. Perceberá que não vale a pena se esforçar por quem não se esforça.

Chega de sacrifícios


Quantas vezes você se matou por alguém, deixou de fazer o que gostaria para ajudar outra pessoa e depois quebrou a cara? Isso o que você fez tem um nome: Sacrifício. E apesar do que se acredita, sacrifício não é uma virtude, é burrice mesmo.

Se a ajuda que você oferece vai lhe prejudicar, isso é irracional. Você não é um mártir e o mundo não precisa de mais sacrifícios. Viver uma vida plena e feliz é uma forma de valorizar e reconhecer os sacrifícios que foram feitos no passado.

O sacrifício é diferente da privação temporária. Se você deixa de jantar fora para economizar e poder comprar algo que deseja, isso não é sacrifício, é o uso racional do seu dinheiro – você está indicando que aquilo que deseja é mais valioso do que os restaurantes.

Ajudar alguém não é sacrifício se a pessoa reconhece isso e faz valer o valor da ajuda. “Mas não é certo ajudar alguém sem esperar nada em troca?” – você perguntará. Sim, a ajuda deve ser voluntária, nunca uma obrigação. Mas é preciso saber quem ajudar, pois aí você entenderá, finalmente, o que significa “não dar pérolas aos porcos”. A melhor forma de ajudar a África, por exemplo, é parar de ajudar a África, como você pode ler aqui.

Aceite que você não pode salvar nem mudar o mundo. Não pode lutar contra o mal porque o mal sempre será mais forte. Não pode vencer o mal porque é o mal que elabora as leis. A luta sempre será injusta quando se usa as regras do adversário.

Por isso decidi parar de me sacrificar pelo mal. Decidi parar de alimentar aquilo cujo propósito é me destruir. Não posso deixar que esse parasita me obrigue a dar o sangue a troco de nada. E a única forma de fazer isso é matar o parasita de fome. Como? Simplesmente me removendo da sociedade e me recusando a fazer parte dessa festa insana.

Como se remover da sociedade?


É preciso mandar pro inferno quem diz que a verdade é relativa, que não existe certo e errado e que bem e mal são conceitos abstratos. Quem afirma isso são criminosos morais que visam destruir os valores mais sagrados que você tem. São seres do mais baixo nível, incapazes de se sustentar pelas próprias pernas e, invejosos, distorcem a realidade para justificar sua depravação, invertendo a moralidade, recompensando os maus e punindo os bons. E fazem isso sob o pretexto de lutar pelas asquerosas ‘causas sociais’, exigindo que o mundo lhes aceite pelo que são e não pelo que fazem.

Então, sim, é preciso escolher um lado. O caminho do meio nem sempre é prudente, mas é sempre o dos covardes. Ficar em cima do muro é assumir sua incapacidade de pensar. Sim, é sua obrigação diferenciar certo e errado, e você só vai conseguir isso pensando e discriminando. Sim, você deve fazer o bem e repudiar o mal em todas as circunstâncias, e isso às vezes lhe obrigará a se afastar de lugares e pessoas. Repudie quem diz “isso não tem problema”, “o mundo mudou”, “todo mundo faz”, etc. Você dirá: “Que exagero, não é preciso chegar a extremos assim.” Na verdade é preciso sim e, se você acha que não, isso só mostra como a covardia e a recusa de encarar a realidade controlam sua vida. Mas as mudanças devem ocorrer dentro de você, racionalmente. Se você deseja lutar por algo, que seja sempre pela liberdade acima de qualquer coisa.

Por isso resolvi me remover disso que chamam ‘sociedade’. Prefiro viver na civilização, onde as pessoas buscam soluções e não culpados. Onde criminosos não são “supostos”. Onde a pessoa é recompensada pelo que faz e não por quem é. Onde respeito, educação e honestidade são meras obrigações e não virtudes. Onde a verdade não resulta em processos judiciais. Onde o governo não reprime o sucesso e incentiva a incompetência. Onde o dinheiro compra produtos, não pessoas. Onde a felicidade é um meio e não um fim. Onde ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas ideias sobre os outros. Onde as pessoas não percam tempo tentando salvar um mundo que não quer ser salvo.

Você deve estar se perguntando onde é esse lugar e quando vou me mudar para lá. Vamos por partes. Há um ditado que diz: “Seja você a mudança que deseja ver no mundo”. É isso que farei. Não posso mudar o mundo, mas posso mudar a mim mesmo e ser o exemplo daquilo que acredito. Mudar de lugar por causa dos problemas é levar os problemas para outro lugar.

Talvez eu não esteja em São Paulo no futuro. Quem sabe? Mas antes da mudança física é preciso a mudança da consciência. Quando a minha mudança interior estiver completa e refletida naqueles que amo, aí será a hora de mudar fisicamente. Não para fugir ou criar um 'exército de homens honrados', como um amigo sugeriu certa vez neste texto, mas para viver. Os parasitas que fiquem com as migalhas que eu deixar para trás.

Sim, eu quero fazer a vida valer a pena. Eu quero honrar aqueles que vieram antes de mim e fizeram por merecer. Eu quero ser a mudança, não no mundo, mas em mim mesmo. E sim, eu quero mais dinheiro, mais conforto, mais paz e mais segurança; e quero que aqueles que amo estejam ao meu lado para desfrutar comigo. Mas quero conquistar tudo isso pelo preço do meu esforço, nunca da minha alma.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento
Sempre achei que o homem que ‘coleciona’ mulheres, que acha o máximo todo dia ter uma mulher diferente e que se vangloria para os amigos de ser o ‘pegador’ é uma pessoa infeliz e perdedora – o típico loser, mesmo. É alguém inferior que precisa de autoafirmação constante porque não possui nenhum valor pelo qual se orgulhar e ser notado.


Acredito que o maior desafio, o mais difícil mesmo (e real motivo de orgulho), é conquistar a mulher que você ama não uma vez, mas todos os dias. E, meu amigo, conquistar a mesma pessoa todos os dias é infinitamente mais difícil do que conquistar uma pessoa nova por dia.

Se a pessoa vem me contar suas aventuras sexuais, ela me passa a impressão de vazia, desprovida de algo que valha a pena se ouvido. A pessoa que considera uma noite de sexo mais importante do que uma vida ao lado de alguém, envelhecendo e aprendendo juntos, é miseravelmente infeliz, ainda que nem se dê conta disso.

Onde está o esforço para manter uma relação saudável por anos, vencendo obstáculos? Se não há esforço, é porque a pessoa não vale mais a pena? Ou, talvez, nunca valeu? Que critérios então você usou para escolher essa pessoa?

Uma grande frustração minha é que nunca consegui colocar em palavras esse conceito corretamente. Até que esses dias vi a transcrição perfeita dos meus pensamentos, a qual compartilho abaixo (e me desculpo por citar Ayn Rand duas vezes seguidas em meus posts, mas, acredite, vale muito a pena):

Considerações sobre amor, sexo e relacionamento – por Ayn Rand


Só o homem com complexo de inferioridade passa a vida correndo atrás de mulheres. Pois o homem que sente desprezo por si mesmo tenta obter amor-próprio por meio de aventuras sexuais. O que é inútil, porque o sexo não é a causa, e sim o efeito e uma manifestação da imagem que um homem faz do próprio valor.

O amor é cego, dizem. O sexo é imune à razão. Mas, na verdade, a escolha sexual de um homem é o resultado e o somatório de suas convicções fundamentais.

Diga-me o que um homem acha sexualmente atraente que lhe direi qual é toda a sua filosofia de vida. Mostre-me a mulher com quem ele dorme e lhe direi a imagem que ele faz de si próprio.

O ato sexual é um ato que força o homem a ficar nu tanto no corpo quanto no espírito e a aceitar seu ego verdadeiro como padrão de valor.

O homem que está convicto do seu próprio valor e dele se orgulha há de querer o tipo mais elevado de mulher possível, a mulher que ele admira, a mais forte, porque somente a posse de uma heroína lhe dará a consciência de ter realizado algo, não apenas de ter possuído uma vagabunda desprovida de inteligência.

Ele não tenta ganhar seu valor, e sim exprimi-lo. Não há conflitos entre os padrões da sua mente e os desejos de seu corpo.

Mas o homem que está convencido de que não tem valor será atraído por uma mulher que despreza, porque ela refletirá o seu próprio eu secreto e lhe proporcionará uma fuga daquela realidade objetiva em que ele é uma fraude.

Observe o caos que é a vida sexual da maioria dos homens e repare no amontoado de contradições que constitui a sua filosofia moral. Uma deriva da outra.

O amor é nossa resposta aos nossos valores mais elevados e não pode ser outra coisa. O homem que corrompe seus próprios valores e a visão que tem da sua existência se parte em dois.

Seu corpo não lhe obedecerá, não reagirá da forma apropriada e o tornará impotente em relação à mulher que ele afirma amar, impelindo-o para a prostituta mais abjeta que puder encontrar.

E então ele não entende por que o amor só lhe provoca tédio, e a sexualidade, apenas vergonha.

Observe que a maioria das pessoas é uma criatura partida em duas, que vive pulando desesperadamente de um polo para outro.

Um dos tipos é o homem que despreza o dinheiro, as fábricas, os arranha-céus e seu próprio corpo. Geme de desespero porque não consegue sentir nada pelas mulheres que respeita, porém sente-se aprisionado por uma paixão irresistível dirigida a uma vagabunda que encontrou na sarjeta.

O outro tipo é o que chamam de prático, que despreza os princípios, as abstrações, a arte, a filosofia e a própria mente. Ele tem como único objetivo na vida a aquisição de objetos materiais e ri quando lhe falam da necessidade de considerar seu objetivo ou sua fonte.

Ele acha que tais coisas devem lhe proporcionar prazer e não entende por que quanto mais acumula, menos prazer sente. Esse é o homem que vive correndo atrás de mulheres.

Observe a tripla fraude que comete contra si próprio. Ele não reconhece sua necessidade de amor-próprio, pois ri do conceito de valor moral. No entanto, sente o profundo desprezo por si próprio que caracteriza aqueles que acham que não passam de um pedaço de carne.

Assim, ele tenta, realizando os gestos que constituem o efeito, adquirir o que deveria ser a causa.

Ele tenta afirmar o seu próprio valor por intermédio das mulheres que se entregam a ele e esquece que as mulheres que escolhe não têm caráter, nem julgamento, nem padrões de valores.

Ele diz a si próprio que tudo o que quer é o prazer físico, porém observe que ele se cansa de uma mulher em uma semana ou uma noite, que despreza prostitutas profissionais e adora imaginar que está seduzindo moças direitas que abrem uma exceção para ele.

É a sensação de realização que ele busca e jamais encontra. Que glória pode haver em conquistar um corpo desprovido de mente? Pois é esse o homem que vive correndo atrás de mulheres.

Essas mulheres estão atrás da mesma coisa que os homens que vivem andando atrás de um rabo de saia: só querem aumentar seu próprio valor por meio do número e da fama dos homens que conquistam.

Só que são ainda mais falsas, porque o valor que elas buscam nem é o ato em si, mas a impressão que vão causar nas outras mulheres, bem como a inveja que vão provocar.

Extraído de A Revolta de Atlas, de Ayn Rand.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Discurso sobre o Dinheiro

Discurso sobre o Dinheiro
Discurso de Francisco D’Anconia a respeito do dinheiro. Extraído do livro A Revolta de Atlas (Atlas Shrugged), de Ayn Rand. É longo, mas pode mudar sua forma de enxergar algumas coisas:

Discurso sobre o Dinheiro (Ayn Rand)


- Então o senhor acha que o dinheiro é a origem de todo o mal? O senhor já se perguntou qual é a origem do dinheiro? O dinheiro é um instrumento de troca, que só pode existir quando há bens produzidos e homens capazes de produzi-los. O dinheiro é a forma material do princípio de que os homens que querem negociar uns com os outros precisam trocar um valor por outro. O dinheiro não é o instrumento dos pidões, que pedem produtos por meio de lágrimas, nem dos saqueadores, que os levam à força. O dinheiro só se torna possível através dos homens que produzem. É isto que o senhor considera mau? Quem aceita dinheiro como pagamento por seu esforço só o faz por saber que ele será trocado pelo produto de esforço de outrem. Não são os pidões nem os saqueadores que dão ao dinheiro o seu valor. Nem um oceano de lágrimas nem todas as armas do mundo podem transformar aqueles pedaços de papel no seu bolso no pão de que você precisa para sobreviver. Aqueles pedaços de papel, que deveriam ser ouro, são penhores de honra; por meio deles você se apropria da energia dos homens que produzem. A sua carteira afirma a esperança de que em algum lugar no mundo a seu redor existem homens que não traem aquele princípio moral que é a origem do dinheiro. É isso que o senhor considera mau?

- Já procurou a origem da produção? Olhe para um gerador de eletricidade e ouse dizer que ele foi criado pelo esforço muscular de criaturas irracionais. Tente plantar um grão de trigo sem os conhecimentos que lhe foram legados pelos homens que foram os primeiros a fazer isso. Tente obter alimentos usando apenas movimentos físicos, e descobrirá que a mente do homem é a origem de todos os produtos e de toda a riqueza que já houve na terra.

- Mas o senhor diz que o dinheiro é feito pelos fortes em detrimento dos fracos? A que força se refere? Não é à força das armas nem dos músculos. A riqueza é produto da capacidade humana de pensar. Então o dinheiro é feito pelo homem que inventa um motor em detrimento daquele que não o inventaram? O dinheiro é feito pela inteligência em detrimento dos estúpidos? Pelos capazes em detrimento dos incompetentes? Pelos ambiciosos em detrimento dos preguiçosos? O dinheiro é feito – antes de poder ser embolsado pelos pidões e pelos saqueadores – pelo esforço honesto de todo homem honesto, cada um na medida de sua capacidade. O homem honesto é aquele que sabe que não pode consumir mais do que produz. Comerciar por meio do dinheiro é o código dos homens de boa vontade. O dinheiro baseia-se no axioma de que todo homem é proprietário de sua mente e de seu trabalho. O dinheiro não permite que nenhum poder prescreva o valor do seu trabalho, senão a escolha voluntária do homem que está disposto a trocar com você o trabalho dele. O dinheiro permite que você obtenha em troca dos seus produtos e do seu trabalho aquilo que esses produtos e esse trabalho valem para os homens que os adquirem, e nada mais que isso. O dinheiro só permite os negócios em que há benefício mútuo segundo o juízo das partes voluntárias.

- O dinheiro exige o reconhecimento de que os homens precisam trabalhar em benefício próprio, e não em detrimento de si próprio; para lucrar, não para perder; de que os homens não são bestas de carga, que não nascem para arcar com o ônus da miséria; de que é preciso oferecer-lhes valores, não dores; de que o vínculo comum entre os homens não é a troca de sofrimento, mas a troca de bens. O dinheiro exige que o senhor venda não a sua fraqueza à estupidez humana, mas o seu talento à razão humana; exige que o senhor compre não o pior que os outros oferecem, mas o melhor que o seu dinheiro pode comprar. E, quando os homens vivem do comércio – com a razão e não à força, como árbitro irrecorrível –, é o melhor produto que sai vencendo, o melhor desempenho, o homem de melhor juízo e maior capacidade – e o grau da produtividade de um homem é o grau de sua recompensa. Este é o código da existência, cujo instrumento e símbolo é o dinheiro. É isto que o senhor considera mau?

- Mas o dinheiro é só um instrumento. Ele pode levá-lo aonde o senhor quiser, mas não pode substituir o motorista do carro. Ele lhe dá meios de satisfazer seus desejos, mas não lhe cria desejos. O dinheiro é o flagelo dos homens que tentam inverter a lei da causalidade – os homens que tentam substituir a mente pelo sequestro dos produtos da mente. O dinheiro não compra felicidade para o homem que não sabe o que quer; não lhe dá um código de valores se ele não tem conhecimento a respeito de valores, e não lhe dá um objetivo, se ele não escolhe uma meta. O dinheiro não compra inteligência para o estúpido, nem admiração para o covarde, nem respeito para o incompetente. O homem que tenta comprar o cérebro de quem lhe é superior para servi-lo, usando dinheiro para substituir seu juízo, termina vítima dos que lhe são inferiores. Os homens inteligentes o abandonam, mas os trapaceiros e vigaristas correm a ele, atraídos por uma lei que ele não descobriu: o homem não pode ser menor do que o dinheiro que ele possui. É por isso que o senhor considera o dinheiro mau? Só o homem que não precisa da fortuna herdada merece herdá-la – aquele que faria sua fortuna de qualquer modo, mesmo sem herança. Se um herdeiro está à altura de sua herança, ela o serve; caso contrário, ela o destrói. Mas o senhor diz que o dinheiro corrompeu. Foi mesmo? Ou foi ele que corrompeu seu dinheiro? Não inveje um herdeiro que não vale nada; a riqueza dele não é sua, e o senhor não teria tirado melhor proveito dela. Não pense que ela deveria ser distribuída; criar cinquenta parasitas em lugar de um só não reaviva a virtude morta que criou a fortuna. O dinheiro é um poder vivo que morre quando se afasta de sua origem. O dinheiro não serve à mente que não está a sua altura. É por isso que o senhor o considera mau?

- O dinheiro é o seu meio de sobrevivência. O veredicto que o senhor dá à fonte de seu sustento é o veredicto que o senhor dá à sua própria vida. Se a fonte é corrupta, o senhor condena a sua própria existência. O seu dinheiro provém da fraude? Da exploração dos vícios e da estupidez humana? O senhor o obteve servindo aos insensatos, na esperança de que eles lhe dessem mais do que sua capacidade merece? Baixando seus padrões de exigência? Fazendo um trabalho que o senhor despreza para compradores que o senhor não respeita? Neste caso, o seu dinheiro não lhe dará um momento sequer de felicidade. Todas as coisas que o senhor adquirir serão não um tributo ao senhor, mas uma acusação; não uma realização, mas um momento de vergonha. Então o senhor dirá que o dinheiro é mau. Mau porque ele não substitui seu amor-próprio? Mau porque ele não permite que o senhor aproveite e goze sua depravação? É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? O dinheiro será sempre um efeito, e nada jamais o substituirá na posição de causa. O dinheiro é produto da virtude, mas não dá virtude nem redime vícios. O dinheiro não lhe dá o que o senhor não merece, nem em termos materiais nem em termos espirituais. É este o motivo de seu ódio ao dinheiro? Ou será que o senhor disse que é o amor ao dinheiro que é a origem de todo o mal?

- Amar uma coisa é conhecer e amar a sua natureza. Amar o dinheiro é conhecer e amar o fato de que o dinheiro é criado pela melhor força que há dentro do senhor, a sua chave-mestra que lhe permite trocar o seu esforço pelo esforço dos melhores homens que há. O homem que venderia a própria alma por um tostão é o que mais alto brada que odeia o dinheiro – e ele tem bons motivos para odiá-lo. Os que amam o dinheiro estão dispostos a trabalhar para ganhá-lo. Eles sabem que são capazes de merecê-lo. Eis uma boa pista para saber o caráter dos homens: aquele que amaldiçoa o dinheiro o obtém de modo desonroso; aquele que o respeita o ganha honestamente. Fuja do homem que diz que o dinheiro é mau. Essa afirmativa é o estigma que identifica o saqueador, assim como o sino indicava o leproso. Enquanto os homens viverem juntos na terra e precisarem de um meio para negociar, se abandonarem o dinheiro, o único substituto que encontrarão será o cano do fuzil.

- O dinheiro exige do senhor as mais elevadas virtudes, se o senhor quer ganhá-lo ou conservá-lo. Os homens que não têm coragem, orgulho nem amor-próprio, que não têm convicção moral de que merecem o dinheiro que têm e não estão dispostos a defendê-lo como defendem suas próprias vidas, os homens que pedem desculpas por serem ricos – esses não vão permanecer ricos por muito tempo. São presa fácil para os enxames de saqueadores que vivem debaixo das pedras durante séculos, mas que saem do esconderijo assim que farejam um homem que pede perdão pelo crime de possuir riquezas. Rapidamente eles vão livrá-lo dessa culpa. Então o senhor verá a ascensão dos homens que vivem uma vida dupla – que vivem da força, mas dependem dos que vivem do comércio para criar o valor do dinheiro que eles saqueiam. Esses homens vivem pegando carona com a virtude. Numa sociedade onde há moral eles são os criminosos, e as leis são feitas para proteger os cidadãos contra eles. Mas quando uma sociedade cria uma categoria de criminosos legítimos e saqueadores legais – homens que usam a força para se apossar da riqueza de vítimas desarmadas – então o dinheiro se transforma no vingador daqueles que o criaram. Tais saqueadores acham que não há perigo em roubar homens indefesos, depois que aprovam uma lei que os desarme. Mas o produto de seu saque acaba atraindo outros saqueadores, que os saqueiam como eles fizeram com os homens desarmados. E assim a coisa continua, vencendo sempre não o que produz mais, mas aquele que é mais implacável em sua brutalidade. Quando o padrão é a força, o assassino vence o batedor de carteiras. E então esta sociedade desaparece, em meio a ruínas e matanças.

- Quer saber se este dia se aproxima? Observe o dinheiro. O dinheiro é o barômetro da virtude de uma sociedade. Quando há comércio não por consentimento, mas por compulsão – quando para produzir é necessário pedir permissão a homens que nada produzem – quando o dinheiro flui para aqueles que não vendem produtos, mas influência – quando os homens enriquecem mais pelo suborno e favores do que pelo trabalho, e as leis não protegem quem produz de quem rouba, mas quem rouba de quem produz – quando a corrupção é recompensada e a honestidade vira um sacrifício – pode ter certeza de que a sociedade está condenada. O dinheiro é um meio de troca tão nobre que não entra em competição com as armas e não faz concessões à brutalidade. Ele não permite que um país sobreviva se metade é propriedade, metade é produto de saques. Sempre que surgem destruidores, a primeira coisa que eles destroem é o dinheiro, pois o dinheiro protege os homens e constitui a base da existência moral. Os destruidores se apossam do ouro e deixam em troca uma pilha de papel falso. Isto destrói todos os padrões objetivos e põe os homens nas mãos de um determinador arbitrário de valores. O dinheiro era um valor objetivo, equivalente à riqueza produzida. O papel é uma hipoteca sobre riquezas inexistentes, sustentado por uma arma apontada para aqueles que têm de produzi-las. O papel é um cheque emitido por saqueadores legais sobre uma conta que não é deles: a virtude de suas vítimas. Cuidado que um dia o cheque é devolvido, com o carimbo: ’sem fundos’.

- Se o senhor faz do mal o meio de sobrevivência, não é de se esperar que os homens permaneçam bons. Não é de se esperar que eles continuem a seguir a moral e sacrifiquem suas vidas para proveito dos imorais. Não é de se esperar que eles produzam, quando a produção é punida e o saque é recompensado. Não pergunte quem está destruindo o mundo: é o senhor. O senhor vive no meio das maiores realizações da civilização mais produtiva do mundo e não sabe por que ela está ruindo a olhos vistos, enquanto o senhor amaldiçoa o sangue que corre pelas veias dela – o dinheiro. O senhor encara o dinheiro como os selvagens o faziam, e não sabe por que a selva está brotando nos arredores das cidades. Em toda a história, o dinheiro sempre foi roubado por saqueadores de diversos tipos, com nomes diferentes, mas cujo método sempre foi o mesmo: tomar o dinheiro à força e manter os produtores de mãos atadas, rebaixados, difamados, desonrados. Esta afirmativa de que o dinheiro é a origem do mal, que o senhor pronuncia com tanta convicção, vem do tempo em que a riqueza era produto do trabalho escravo – e os escravos repetiam os movimentos que foram descobertos pela inteligência de alguém e durante séculos não foram aperfeiçoados.

- Enquanto a produção era governada pela força, e a riqueza era obtida pela conquista, não havia muito que conquistar. No entanto, no decorrer de séculos de estagnação e fome, os homens exaltavam os saqueadores, como aristocratas da espada, aristocratas de estirpe, aristocratas da tribuna, e desprezavam os produtores, como escravos, mercadores, lojistas – industriais. Para a glória da humanidade, houve, pela primeira e única vez na história, uma nação de dinheiro – e não conheço elogio maior aos Estados Unidos do que esse, pois ele significa um país de razão, justiça, liberdade, produção, realização. Pela primeira vez, a mente humana e o dinheiro foram libertados, e não havia fortunas adquiridas pela conquista, mas só pelo trabalho, e ao invés de homens da espada e escravos, surgiu o verdadeiro criador da riqueza, o maior trabalhador, o tipo mais elevado de ser humano – o self-made man – o industrial americano. Se me perguntarem qual a maior distinção dos americanos, eu escolheria – porque ela contém todas as outras – o fato de que foram os americanos que criaram a expressão “fazer dinheiro”. Nenhuma outra língua, nenhum outro povo jamais usara estas palavras antes, e sim “ganhar dinheiro”; antes, os homens sempre encaravam a riqueza como uma quantidade estática, a ser tomada, pedida, herdada, repartida, saqueada ou obtida como favor. Os americanos foram os primeiros a compreender que a riqueza tem que ser criada. A expressão ‘fazer dinheiro’ resume a essência da moralidade humana. Porém foi justamente por causa desta expressão que os americanos eram criticados pelas culturas apodrecidas dos continentes de saqueadores.

- O ideário dos saqueadores fez com que pessoas como o senhor passassem a encarar suas maiores realizações como um estigma vergonhoso, sua prosperidade como culpa, seus maiores filhos, os industriais, como vilões, suas magníficas fábricas como produto e propriedade do trabalho muscular, o trabalho de escravos movidos a açoites, como na construção das pirâmides do Egito. As mentes apodrecidas que dizem não ver diferença entre o poder do dólar e o poder do açoite merecem aprender a diferença na sua própria pele, que, creio eu, é o que vai acabar acontecendo. Enquanto pessoas como o senhor não descobrirem que o dinheiro é a origem de todo bem, estarão caminhando para sua própria destruição. Quando o dinheiro deixa de ser o instrumento por meio do qual os homens lidam uns com os outros, os homens se tornam os instrumentos dos homens. Sangue, açoites, armas – ou dólares. Façam sua escolha – não há outra opção – e o tempo está esgotando.

Quais são seus planos para este ano? Reclamar ou gerar riqueza?

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O que podemos aprender andando de metrô

O que podemos aprender andando de metrô
Há um ano e meio tenho ido trabalhar de metrô. Metrô e trem. O carro fica com minha esposa, que leva 15 minutos pra chegar ao trabalho; enquanto eu levo cerca de 1h20 (mesmo se fosse de carro). Foi uma decisão lógica, já que gastamos a mesma coisa – eu com passagens, ela com gasolina. Se invertêssemos, ela continuaria gastando o mesmo, já eu triplicaria esse valor.


Mas não é sobre gastos que pretendo falar, e sim com o fascinante aprendizado antropológico que se pode aprender no metrô e trem. Meu trajeto consiste em pegar a Linha Verde na Estação Vila Prudente, seguir até a Consolação, fazer baldeação para a Linha Amarela, seguir para a Estação Pinheiros, fazer baldeação para a CPTM na Linha Esmeralda e ir até a Estação Berrini. De lá, mais uns 10 minutos de caminhada até a empresa. Na volta, é o caminho inverso.

Ando de metrô em São Paulo desde garoto, quando só existiam as linhas Vermelha e Azul. Minhas incursões ao centro da cidade, às livrarias e sebos, à Galeria do Rock e ao bairro da Liberdade sempre foram feitas de metrô – mesmo depois de ter um carro. Mas é claro que os tempos mudaram. A fauna aumentou e, com ela, o contato e o calor humano. Creio que uma salutar visita ao metrô e aos trens da CPTM poderia explicar muito sobre os hábitos coletivos do paulistano. Qualquer sociólogo ou antropólogo pode se deliciar com uma infinidade de informações. Eu mesmo já aprendi muito, como listo a seguir.

Andando de metrô e trem eu aprendi que:

  1. As pessoas não sabem a diferença entre esquerda e direita nas escadas e corredores.
  2. Educação e respeito são itens opcionais, portanto, deixe-os em casa.
  3. Fila indiana por ordem de chegada é bobagem, amontoe-se ao lado do primeiro da fila e entre correndo na frente dele assim que as portas abrirem.
  4. As placas de sinalização estão ali com o objetivo de serem ignoradas.
  5. Os engenheiros que projetaram as estações são babuínos com Alzheimer que nunca tiveram contato com um ser humano na vida.
  6. O fato de desligarem as escadas rolantes e esteiras em horários de pico só reforça a afirmação acima.
  7. Zíbia Gasparetto é a alta cultura literária dos usuários da Linha Verde. Na Linha Amarela, você só é culto se estiver lendo os pesados volumes de Game Of Thrones (em inglês, nunca as traduções).
  8. Ninguém nasce com preconceito, ele é adquirido andando de trem e metrô.
  9. Se você vai descer na próxima estação e o vagão está lotado, espere até as portas abrirem para avisar isso e comece a empurrar todo mundo.
  10. Trens lotados não significam que você deve esperar o próximo, e sim jogar-se para dentro até quebrar as costelas de alguém.
  11. Nem todos os idosos são bonzinhos e adoráveis.
  12. Nunca se deve esperar as pessoas saírem do vagão para entrar. Empurre-as de volta na aglomeração como se sua vida dependesse disso.
  13. Responder mensagens pelo celular (ou ler um livro) enquanto anda é ótimo para atrasar a vida de todos que estão atrás de você.
  14. Os bancos reservados para idosos e deficientes causam sonolência incontrolável em pessoas comuns. Sem falar na dor, pois muitos que sentam nesses bancos sob o olhar reprovador das pessoas fazem uma careta de dor, fingindo passar mal.
  15. A Linha Esmeralda (CPTM) já teve mais de 91 falhas desde o começo do ano, ou seja, de janeiro pra cá, foram praticamente três meses com problemas.
  16. O ser humano não foi criado para viver em sociedade.
Se você também tirou grandes lições de vida do transporte público, fique à vontade para comentar e aumentar esta lista.

sábado, 14 de abril de 2012

O brasileiro está lendo menos?

O brasileiro está lendo menos?
Há milhares de anos, quando estudei desenho no colegial técnico, tínhamos o hábito de comparar preferências de leitura com os colegas de classe. Estávamos saindo da adolescência e, ainda que egressos das histórias em quadrinhos, nosso universo cultural era amplo – nos interessávamos por assuntos diversos e não apenas os relacionados às nossas pretensas carreiras.


Da antiga turma, o Tarcísio Salvador (de quem perdi contato há anos) dizia que deveríamos ler de tudo ou seríamos "semimortos". Ele era um filósofo-intelectual com visual gótico e sempre vinha com assuntos transcendentais. Mas tinha razão – se lêssemos apenas quadrinhos porque desejávamos ser desenhistas, estaríamos limitados a um universo insignificante comparado à riqueza de assuntos que o mundo literário oferecia.

Ler enriquece, transforma, liberta. Somente pela leitura o ser humano pode sair da barbárie. Difícil encontrar leitores inveterados que gostem de multidões, barulho e algazarras. A leitura nos torna civilizados. E civilização é silêncio.

Sinto agonia quando não tenho nada para ler. Em casa sempre estou com livro em punho. Geralmente leio dois por vez – um no tradicional formato de papel e outro digital, no iPod – graças aos e-books ampliei meu volume de leitura.

Não tenho muito respeito por quem não lê ou não gosta de livros. São pessoas limitadas com as quais não dá para manter longos diálogos. Muito diferente de quando conversamos com alguém que lê muito, onde horas de bate-papo sequer são notadas.

E há algumas semanas vi a curiosa notícia de que o hábito de leitura caiu no Brasil. O brasileiro está lendo menos, é o que nos diz uma pesquisa do Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope. O número de leitores caiu de 95,6 milhões (55% da população), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011.

De acordo com Marina Carvalho, supervisora da Fundação Educar DPaschoal, uma das razões para a queda no hábito de leitura é a falta de estímulos vindos da família. “"Se em casa as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma obrigação escolar”, diz a especialista. “As crianças precisam estar expostas aos livros antes mesmo de aprender a ler. Assim, elas criam uma relação afetuosa com as publicações e encontram uma atividade que lhes dá prazer.”"

Nisto estou de acordo. Da minha parte comecei a ler cedo, ainda criança. Não só quadrinhos, mas qualquer livro que me caísse em mãos. Tanto na casa dos meus pais quanto na dos meus avós sempre havia livros dando sopa. Mesmo que não compreendesse bem os assuntos, gostava de mergulhar na leitura. Hoje, para mim, ler é tão vital quanto respirar.

Mas não entendo as campanhas de incentivo à leitura. Ou você gosta de ler, ou não gosta. Como incentivar alguém a fazer algo que considera uma tortura? Duvido que alguém mude de opinião por causa de um cartaz dizendo que ler é bom. Não que eu seja contra o incentivo à leitura, só não vejo eficácia nele. Se desde criança a pessoa não gosta de ler, não é de adulta que mudará de ideia – ela sempre preferirá futebol e novela a um Herman Melville. Até porque, elevando-se a cultura literária da população, adeus futebol e novela.

Que o leitor do blog não pense que desejo extinguir o futebol. Óbvio que se pode curtir um jogo do seu time e ainda assim ler bons livros – mas o esporte deixaria de ser a única forma de entretenimento. Já novelas deviam desaparecer.

Volto ao fato de que o brasileiro está lendo menos. E acho a pesquisa duvidosa, afinal, quando o brasileiro leu mais? Fato que vejo bastante gente com livros no metrô. Mas mesmo esses são minoria ante a massa inculta. E há de se analisar ainda a qualidade do que se lê –-- de nada adianta aumentar leitores de Paulos Coelhos e Stephenies Meyers da vida.

Eu não tenho nenhuma fórmula mágica para fazer o brasileiro ler (bons) livros. Nunca parei para pensar nisso. Há vários fatores envolvidos. Talvez a saída fosse a grande mídia, principalmente a televisão, iniciar uma campanha massiva com personagens, atores e celebridades sempre recomendando livros. Mas a televisão não faria uma campanha que acabaria prejudicando a si própria. Sem mencionar que celebridades também não conhecem bons livros.

Se os pais não leem e não transmitem o prazer da leitura aos filhos, estes por sua vez não terão o que repassar a seus filhos – nisso já temos três gerações avessas a livros. Resta aos professores a tarefa de fazer os alunos se interessarem pela leitura, mas aí esbarramos nos livros que o governo os obriga a ler. E convenhamos que entre certos autores nacionais e o analfabetismo, a escolha é difícil.

Volto à pré-história: Trabalhei em uma locadora de games quando garoto. Fazíamos promoções em que o cliente alugava os jogos num dia, passava o final de semana e pagava uma diária na segunda. Quem atrasasse pagava as diárias extras. Foi o caso de um senhor que, ao me entregar os jogos, cobrei-lhe os dias a mais. Ele questionou o valor e expliquei sobre o atraso. Ele perguntou onde estava escrito que deveria pagar a multa e eu lhe mostrei o papel que ele havia assinado, onde havia o texto explicativo e, também, apontei para um enorme aviso colado na parede com esse mesmo texto. E ele, irritado: "Ah, mas brasileiro não lê".

E estamos assim há décadas. Quanto menos as pessoas leem, mais arrogantes, manipuláveis e rasas se tornam. Se há uma coisa que todos os livros que li me ensinaram, é que quem lê muito reconhece que não sabe nada; e quem não lê nada acha que sabe muito.